7.10.01

Sacudindo o esqueleto


Na última quarta-feira, John Perry Barlow, um dos ciber-cidadãos mais ativos do planeta, comemorou 54 anos com uma das suas famosas Barlowfests, desta vez no Granite Room, clube de jazz em pleno Ground Zero, em Nova York. Convencido de que não se pode negar a vida aos que (ainda) estão vivos, e de que os comerciantes da área estão mais do que precisados de uma força, ele conseguiu reunir 200 almas roqueiras e destemidas que comemoraram até altas horas. Várias coisas curiosas aconteceram, inclusive a presença de meia dúzia de bombeiros, loucos para dar um tempo no funesto trabalho que vêm fazendo, sem parar, há quase um mês. Foram recebidos como heróis e, garante Barlow, se deram bem.

Mas, diz ele, é impossível esquecer o horror -- até porque, no Ground Zero e em suas imediações, não se pode fugir do cheiro:

"Depois de alguns dias de calor e de excavações intensas nos escombros, aquele cheiro enorme e triste se tornou tão pungente que, às vezes, fica difícil respirar até no meu apartamento, na esquina de Grand e Mott, três vezes mais longe do Ground Zero do que o lugar da festa. Lá, é tudo. A imprensa não consegue transmitir este odor, porisso fala tão pouco nele, embora -- tirando o luto em Nova York, a histeria no resto do país e uma alteração de paisagem que, em Manhattan, é como se os Tetons desaparecessem de Jackson Hole -- o cheiro seja a lembrança mais constante e emocionalmente penetrante do massacre. Eu também não vou conseguir descrevê-lo.

Ele é uma mistura, em partes iguais, do pior com que a química e a biologia podem atingir o seu nariz. Do lado químico, podem-se detectar os gases que os plásticos liberam quando queimam, vapor de mercúrio, poeira de asbestos e, provavelmente, a maior variedade de moléculas inorgânicas jamais reunida. E o componente biológico é, bem... a bio-massa aquecida e morta há vinte dias de uns seis mil dos nossos semelhantes".

Ugh.

A íntegra da carta de John Perry Barlow (em inglês) está aqui.

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