O CES, Consumer Electronics Show – também chamado no Brasil de a CES, por causa da tradução implícita de “show” por feira – é o maior espetáculo da terra para quem curte eletro-eletrônicos, gadgets, computadores e tendências com tomada ou bateria de modo geral. Realiza-se na primeira semana de janeiro em Las Vegas e, em termos de timing, é quase tão inconveniente quanto a posse de políticos marcada para o primeiro dia do ano. Tal qual a posse dos políticos, pode-se dar a esse luxo porque, para o povo da área, é imperdível; de modo que, entra ano sai ano, milhares de geeks deixam o conforto do lar para enfrentar os aeroportos em seu pior momento e tomar o rumo do Velho Oeste. Sou uma das pessoas que vem fazendo isso há anos; 2011 não foi exceção.
Este ano, os grandes assuntos da feira, que determina o que será consumido num futuro imediato ou muito próximo, foram os onipresentes tablets e os aparelhos 3D, de câmeras fotográficas e smartphones a telas gigantescas. Os tablets, ninguém duvida, vieram para ficar. Mas em relação ao 3D há divergências. Não é à toa que a tecnologia, que já vem desde os anos 50, volta e meia dá sinais de vida – para logo submergir novamente.
Agora, uma pesquisa realizada pelo Vision Critical ao longo do último mes e divulgada ontem, revela que a maioria dos americanos, ingleses e canadenses não tem intenção de comprar um aparelho de TV 3D tão cedo. Americanos e ingleses descrentes estão em 81% e 84%, respectivamente; os canadenses, mais taxativos, entram na casa dos 95%, chegando aos 98% em alguns estados.
Alguma surpresa? Pessoalmente, acho que esta pesquisa, como tantas que se fazem por aí, apenas chove no molhado. Assistir TV em 3D é uma experiência esdrúxula e desconfortável, sobretudo para quem já usa óculos; e, sobretudo, inútil, porque a maioria do conteúdo apresentado não precisa da terceira dimensão. Somos perfeitamente capazes de imaginar os planos e perspectivas de uma cena sem auxílio artificial. Mesmo no cinema, passada a novidade de “Avatar”, o 3D é uma gracinha perfeitamente dispensável. Amigos que assistiram à pré-estréia de “Rio” estão loucos para ver o filme de novo – em 2D!
A única área em que vejo o 3D tendo algum sucesso é nos games, onde a sensação de imersão no universo do jogo pode ser de fato ampliada nas três dimensões. Smartphones e pequenos gadgets que, naturalmente, precisam ser vistos de frente, e normalmente o são por uma só pessoa, também podem dar certo.
A TV doméstica em 3D, porém, tem um longo caminho a percorrer para conquistar o público, se é que conseguirá fazê-lo. O mundo inteiro acaba de passar por uma mudança radical de tecnologia – todos nos lembramos de quando compramos o nosso primeiro plasma ou LCD (e muitos ainda sequer o fizeram); as telas planas conservam, portanto, a mística de maravilha tecnológica com que, no outro dia mesmo, chegaram ao mercado. Vai ser difícil convencer o consumidor, que acabou de trocar de TV, que o seu lindo aparelho de 46 polegadas já está obsoleto...
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Descoberta muito interessante do leitor Carlos Lauria. Vejam só:“Recebi na minha conta do Gmail duas mensagens vindas de uma pessoa que não conheço. Fui checar os destinatários das mensagens e vi que havia um endereço lauri.a.carlos. Estranhei o fato de vir para mim, pois o meu endereço é lauria.carlos. Ativei os detalhes da mensagem e, ao lado do endereço que a pessoa colocou, havia uma nota do Gmail: "Sim, esse é você. Clique e saiba mais". Resumindo: graças ao erro daquela pessoa, descobri que você pode colocar e retirar pontos à vontade de um endereço do Gmail que ele não está nem aí. Ele sempre desconsidera os pontos. Então eu posso escrever meu endereço como lauria.carlos ou lauriacarlos ou lauri.a.carlos (como fez a outra pessoa) e a mensagem sempre chegará para mim. Posso colocar até l.a.u.r.i.a.c.a.r.l.o.s que vai chegar.”
(O Globo, Economia, 2.4.2011)
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