10.4.11

Me dá uma ligada



Ri com a manchete do nosso “Digital & Midia” de segunda passada, “Se for pra mim diz que não estou”, em matéria que o Carlos Alberto Teixeira escreveu sobre a fobia a telefone que vem sendo desenvolvida por tantos usuários nesses tempos de comunicação teclada, de email a SMS, passando por todas as redes sociais possíveis e imagináveis.

É que faço parte de uma vertente diametralmente oposta de bípedes, aqueles que mal abrem as caixas postais, odeiam SMS e, cada vez mais, só se comunicam pelo telefone.

Quando abri a minha primeira conta na internet vocês não eram nem nascidos, e ter uma caixa postal era algo de fato emocionante. Normalmente a gente trocava email com outros malucos que já tinham descoberto a internet, e que freqüentavam os mesmos fóruns da Usenet.

Gente de todas as partes do mundo, com muita coisa em comum. Era um tempo de inocência tecnológica, em que era possível dar a volta ao mundo hospedando-se nas casas de outros usuários da rede, apenas por termos trocado dois emails. Eramos tão poucos que os nossos perfis eram forçosamente parecidos.

Um dia, naqueles tempos, saí para jantar com um grupo de amigos, e a certa altura um deles disparou:

-- Você está aqui jantando com a gente, mas a sua cabeça está na porcaria daquele computador, não é?

Era verdade. Eu estava imensamente curiosa em saber o que havia chegado à caixa postal. Nos dias mais movimentados, chegavam até dez emails! Até hoje tenho amigos que nunca encontrei na Islândia, na Escócia, na Austrália, na Alemanha. O próprio CAT, que escreveu a matéria de segunda-feira, viajou como ninguém nessa época, batendo às portas dos amigos virtuais nos quatro cantos do planeta e sendo sempre recebido de braços abertos.

Para quem viveu essas caixas postais emocionantes, não há nada mais desanimador do que abrir as caixas postais de hoje, cheias de spam, de promoções e materiais que não são exatamente spam, de apresentações de slides engraçadinhas e alertas sem noção, onde se perdem os bilhetes de quem está logo ali na esquina e poderia mais facilmente dar um telefonema.

Para quem é jornalista a coisa fica ainda pior, porque nos tempos em que as mensagens viajavam apenas pelo correio, as assessorias de imprensa filtravam o que vinha para cada um de nós. Com a facilidade do email, porém, recebo releases sobre celebridades de quem nunca ouvi falar e dezenas de coisas que não me interessam, de novas cores de esmalte a peças automotivas.

A morte do email já é dada como certa por alguns futuristas. Eu não aposto tão alto, mas acho que vamos ter de encontrar um jeito para conviver com esse excesso de informação. Amigos que conhecem a minha aversão à mailbox avisam pelo Twitter ou pelas caixas de comentário do blog quando me enviam algo importante para o Gmail.

O problema com o SMS, por sua vez, é que nem todo mundo têm talento para teclar em espaço tão miúdo – e eu me incluo nesse grupo. Sou bastante fluente no T9 que se usava nos teclados numéricos, mas péssima no teclado virtual dos touch-screens, exceção feita aos Android com swipe, forma menos dolorosa de digitação.

Assim, o círculo se fecha, e há uma resposta totalmente nova e revolucionária à clássica pergunta “Qual é o jeito mais fácil de eu me comunicar com você?”: pelo telefone, é claro.

O único ponto negativo disso é que, por “telefone”, hoje, deve-se entender “celular” – aquele objeto convenientemente pequeno, que está sempre ao meu lado, dia e noite, levando metade da minha vida: conexão à internet, fotos, agenda, música, diversão e até um pouco de trabalho.

Em países que já entenderam a importância deste objeto, os custos do seu uso são razoáveis; no Brasil, onde a ficha demora séculos para cair (quando cai), o custo é um dos mais altos do mundo. Resultado? No tempo da comunicação instantânea e universal, a comunicação, para a minha tribo, virou artigo de luxo.

* * *

As fotos são uma seleção do que andei postando no Instagram por esses dias – à sua maneira, uma outra volta ao passado, que está fazendo todo mundo ver o mundo novamente em 6 x 6, o clássico formato de filme das Rolleiflex & similares.  


(O Globo, Economia, 9.4.2011)

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