29.10.01





Como desonrar uma linda profissão

Dica para quem está com espinha de peixe entalada na garganta, bola de pelo na barriga ou precisa, por qualquer outro motivo, vomitar urgentemente: leiam as últimas colunas do famigerado David Coursey sobre o seu jantar com Bill Gates. Tudo bem, eu sei que ninguém precisa ter necessariamente a minha opinião em relação à M$, e até acredito que tanto a empresa quanto Gates tenham seus genuínos admiradores; mas jornalista de tecnologia deslumbrado e puxa-saco eu não admito. Jornalista é, por definição, um profissional em busca da verdade, seja lá essa verdade qual for; a sua obrigação é questionar a autoridade e a versão oficial, e não fazer com que esta ou aquela celebridade não se sinta incomodada pela imprensa.

Eu já entrevistei Bill Gates algumas vezes, desde a época em que ele ainda não era Bill Gates. E foi SEMPRE uma perda de tempo, porque ele fala apenas o que quer. Você pergunta qual a estratégia da M$ em relação ao processo do DoJ (da última vez estávamos na era pré-Bush e havia um processo sério rolando) e ele tem a cara de pau de responder "Que processo? Não há processo algum!". Demorei, mas aprendi: eu não entrevisto mais Bill Gates, simples assim. Sei que o tempo dele vale infinitamente mais do que o meu mas, para mim, por razões óbvias, o meu vale mais do que o dele. Prefiro ler blogs, onde a gente encontra gente de verdade dizendo coisas legais, a perder meu precioso tempo com o Senhor do Universo (Steve Ballmer é outra história; é engraçado, inteligentíssimo e um grande desafio intelectual).

Mas David Coursey, obviamente, se acha um privilegiado. Está iluminado pela oportunidade que teve de levar uns coices do homem mais rico do planeta. E diz: "A razão pela qual Bill desafia as perguntas é, acredito, porque ele vive num mundo quase que inteiramente dominado por fatos e inteligência. Então se irrita com coisas que não sejam factuais, inteligentes, ou ambos". A primeira pergunta do lídimo representante da ZDNet foi: "Como vai a família?".

Desculpem, mas como diz Ivan Lessa, tenho que ir lá dentro vomitar um pouco. E nao estou nem com espinha de peixe entalada na garganta nem com bola de pêlo na barriga...



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