4.2.03



Oops, esqueci...

Notícias do front

Como a essa altura já sabem os leitores do Segundo Caderno, na semana passada fui à Fashion Week de São Paulo para conhecer os novos lançamentos de celulares da Samsung. Aqui já bati nesta tecla algumas vezes, mas acho que essa história ainda vai dar muito pano para a manga — expressão, aliás, perfeitamente adequada ao caso: em breve, lugar de telefone celular não vai mais ser caderno de informática, mas sim revista de moda.

Há algum tempo fabricantes e operadoras descobriram o óbvio: no dia em que todo mundo que quer ou precisa de telefone móvel tiver o seu, o mercado pára, ou quase isso. Na Finlândia, por exemplo, 95% das pessoas têm telefone, e este percentual só vai mudar no dia em que a Nokia conseguir convencer os 5% restantes. Que não têm telefone não porque não tenham meios para isso, mas porque não querem ter telefone: são opositores conscientes. Ora, é mil vezes mais fácil convencer um trabalhador que ganha um fiapo de salário a abrir mão de meio fiapo para que a filha tenha um Oi da Xuxa do que fazer a cabeça dessa gente.

Cria-se, então, uma necessidade artificial. Daqui a pouco estaremos todos trocando de celular porque nossos aparelhos estarão irremediavelmente fora de moda, e nos denunciarão como seres do pré-cambriano. E como se transforma um objeto utilitário em acessório de moda? Simples: enturmando-se com o pessoal da moda. Daí o patrocínio da Samsung à Fashion Week, e sua associação com três dos principais estilistas brasileiros — Reinaldo Lourenço, Ricardo Almeida e Walter Rodrigues — que criaram, para essa edição da semana, alguns acessórios chiques para os telefones. Não que o “Dream”, a belezinha vermelha que vocês podem ver aí ao lado, precise disso: ele é irresistível por si só. E é essa, justamente, a idéia.

O “Dream” é um CDMA com todos os requisitos da última moda: campainhas polifônicas, secretária eletrônica embutida, gravador de voz, agenda, SMS, acesso à internet e uma janelinha que permite que se veja quem está chamando antes de abri-lo.

Outro objeto falante extremamente cobiçável é o “Xelibri”, da Siemens, apresentado — num evento de moda, é lógico — na última quarta-feira, em Munique. Este já nem disfarça: vem de fábrica com a definição Fashion Accessory, e pronto. O fato de que seja um telefone é, aparentemente, secundário — até mesmo ao se considerar a posição das teclas, muito criativa mas, a meu ver, complicadíssima para quem já se habituou à disposição padrão das teclas nos modelos móveis. O que vai ter de gente fazendo ligação errada com esta belezinha vai ser uma grandeza — mas, who cares ? O importante agora, saibam, não é mais falar: é ser fashion.

Ah, sim: o “front” do título desta nota não se refere bem ao que vocês estão pensando. É, para ficar no clima, uma alusão à coluna da Mara Caballero, no Ela. Fashion eu, não?

Notícias do front II

Enquanto isso, na internetBR, o UOL acaba de dar uma rasteira inacreditável em cerca de 255 provedores afiliados. Primeiro, distribuiu entre os usuários um “discador exclusivo”, conectado a uma linha 1500, dizendo que havia modernizado sua infra-estrutura para proporcionar a todos “maior qualidade e segurança”; depois, pimba! cancelou, unilateralmente, os contratos que havia feito ao longo do tempo com pequenos e médios provedores em todo o país. Muitos deles fizeram investimentos de peso por conta da parceria, entregaram ao UOL sua carteira de clientes e agora estão no ora veja. Quanto à linha 1500, é igual àquela utilizada pelos provedores gratuitos que o UOL critica com tanta veemência.

Todo mundo sabe que o barco da internet anda navegando por mares agitados, e que a situação do UOL não é lá aquelas maravilhas. Todo mundo também sabe que empresas não têm sentimentos, e que, no final, o que conta mesmo é o vil metal. Ainda assim, fiquei chocada com essa história. Conheço vários pequenos e médios provedores, cujo crescimento acompanho desde o início das operações da internet comercial no país, e sei como foi dura a sua luta.

Acho muito triste que, aos poucos, estes empreendedores valentes e visionários acabem derrotados por dois ou três mega-conglomerados. Uma internet nas mãos de meia dúzia de gigantes gêmeos é, certamente, uma internet mais manipulável pelos poderosos, mais fácil de censurar e muito mais indefesa do que uma rede tecida por centenas de pessoas com propostas, idéias e ideais diferentes.

OBS: “Front”, aqui, é front mesmo.

(O GLOBO, Informática etc., 03.02.03)

Nenhum comentário: