17.2.03



Google & Blogger


Se o Google já sabe tudo o que a gente procura, agora com o Blogger ficará sabendo tudo o que a gente acha. (Cesar Valente, nos comentários abaixo)

Passei o dia longe da máquina; quando abri a mailbox, um email da Rosana Fischer -- oops: Hermann! (mil perdões, cometi um erro essencial de Ros[s]anas!), do Querido Leitor, me deu a grande notícia: o Blogger foi comprado pelo Google! Quem deu o furo foi Dan Gilmor, do San José Mercury News, um dos jornais mais interessantes dos Estados Unidos: quase Diário Oficial do Vale do Sílicio, o Mercury tem sempre uma visão bastante peculiar do mundo -- para dizer pouco. É o jornal dos sonhos de qualquer jornalista de informática, o único em que tecnologia dá manchete de primeira página em corpo 72 acima da dobra.

Mas divago. Voltando à união Google & Blogger -- a essa altura, naturalmente, todo mundo sabe da aquisição, e discute se isso é bom, mau ou muito antes pelo contrário. E eu não resisto a cair nessa também.

À primeira vista, acho muito bom. Embora o Ev diga que eles estavam muito bem, a galera da Pyra (cinco pessoas, ao todo) estava dando nó em pingo d'água para manter o Blog*spot nos trilhos. Quando meu blog congelou, andei conversando via email com Jason Shellen e deu pra perceber que as coisas estavam confusas por lá. Os blogs se multiplicaram a uma velocidade inesperada, e a transferência do Blog*spot para os servidores do Google -- que é, possivelmente, a empresa que mais entende de tráfego pesado na rede -- significa mais estabilidade e melhor qualidade na hospedagem dos blogs.

Para o Google, que há tempos comprou a Deja.com, que mantinha os arquivos da Usenet, faz o maior sentido comprar ferramentas de blogs, praticamente sucedâneos dos antigos grupos de discussão.

Neste momento, há uma certa paranóia em relação ao Google no ar. Um site chamado Google Watch, que denuncia o Google como Big Brother do ano, está sendo linkado furiosamente pela rede afora. Li as suas acusações e me pareceram fracas. Basicamente, a gritaria é motivada pelos cookies do Google (que registram as páginas visitadas pelo internauta), pelo fato do Google ter contratado um engenheiro que trabalhou na National Security Agency (uma agência de inteligência do governo americano), de sua barra de ferramentas ser spyware e assim por diante.

Bom, como eu já escrevi nos comentários aqui embaixo há alguns dias: quem ainda acredita em privacidade na rede está delirando. Já tive a minha fase de preocupação com cookies, mas joguei a toalha há tempos. É justamente a vigilância do Google dos nossos movimentos que faz dele a tremenda ferramenta de busca que é; o fato de que saiba ou não o IP da minha máquina me é, sinceramente, indiferente -- e olhem que eu tenho um IP fixo.

Uma empresa de marketing ou um governo mal intencionado que resolvam monitorar minhas atividades na rede tem "n" meios de fazê-lo sem precisar recorrer ao Google; além do quê, baixa a barra de ferramentas do Google quem quer -- ao contrário dos usuários dos grandes provedores nacionais de internet, por exemplo, que plantam suas barras no browser da clientela na maior sem-cerimônia.

Quanto ao fato de lá trabalhar um engenheiro que já trabalhou para a NSA -- sinceramente? Acho um factóide, perfeito para quem é adepto da Teoria Conspiratória da História. Mil vezes pior e mais daninho à minha saúde é ter o Sarney dando as cartas novamente no Congresso Nacional ou -- horror dos horrores, realmente! -- o Roberto Amaral no Ministério da Ciência e Tecnologia. Isso para não falar no Bush na presidência dos Estados Unidos.

Sei que esta pode parecer uma atitude contraditória em relação à minha bronca com a M$, mas na verdade estamos falando de coisas totalmente diferentes. O Google é a melhor, mas não única, ferramenta de busca na rede; eu posso evitar cookies se quiser; e posso surfar anonimamente se assim o desejar. Um dia, se for o caso, posso até viver sem ferramentas de busca -- ainda tenho meus livros de referência, meus dicionários e enciclopédias. Não estou de pés e mãos atados nas garras do Google -- que ainda por cima, ao que eu saiba, nunca trucidou a concorrência através de ameaças, boatos e baixarias de todo o tipo, nem nos empurrou goela abaixo um produto de qualidade duvidosa.

O grande problema do Google é, paradoxalmente, a sua competência. Com ele, passou a ser fácil demais descobrir tudo a respeito de todos. Ninguém conseguirá mais, por exemplo, se livrar dos maus versos que cometeu na juventude, ou -- e isso é mais sério -- de um passado com deslizes que tenham resultado em escândalo e/ou cadeia.

Mas isso é outra discussão, para quando eu estiver com menos sono.

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