Daqui e dali
A gente faz assim: quando eu estou sem tempo e/ou assunto, vou lá
Fal e roubo alguma coisa. Quando ela está sem tempo e/ou assunto, rouba alguma coisa daqui. Ontem eu roubei de lá, ela veio, roubou daqui, agora fui lá e roubei mais... êta nós. Parece até política. Agora, sério: ela chamou a atenção para este texto do
Eduardo Almeida Reis, que por sua vez chamou a atenção para um assunto da maior gravidade:
Quando descia do morro, a menina passava pelo ponto de táxi próximo aqui do chatô assobradado. O decano dos motoristas, às vezes, lhe dava um real. Dia desses, o doador comentou com os colegas do ponto: 'Sabem aquela menina que me pede dinheiro? Está grávida...' Todos acharam impossível: tão pequenina...
E a menina voltou ao ponto de táxi, barrigão de oito meses, maior que ela. Cercada pelos motoristas, explicou que tem 12 anos recém-completados. Com o atraso de sua quarta menstrução, comentou com a mãe, que achou a maior graça numa possível gravidez. A mãe tem 32 anos e oito filhos, dos muito clarinhos aos muito escurinhos, cada qual de um pai. Duas das irmãs da menina são viúvas: mataram o marido de uma delas com cinco tiros, há pouco tempo. A outra enviuvou há três anos, também de um soldado do tráfico, que lhe deixou dois filhos. Mas ela já providenciou a vinda de irmãozinhos para os órfãos, dentro do esquema um de cada pai.
(...)
O fenômeno, o problema, ou lá o nome que lhe queiram dar não ocorre no Burundi, na Costa do Marfim ou na Nova Guiné, mas aqui mesmo, no centro da cidade de Belo Horizonte, capital de todos os mineiros. Temos leis, impostos, autoridades constituídas, o dr. Pimentel na Prefeitura, o dr. Neves da Cunha no Palácio da Liberdade. Então, como é que fica? É provável que tenha faltado alimentação adequada ao feto; é também possível que falte proteína ao bebê durante o primeiro ano de vida. Só aí, teremos um brasileirinho com 64% de suas células cerebrais lesadas. Ainda bem que meu espaço zé fini...
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