6.2.03






A moda no Rio, ou:
São Paulo não é aqui

As duas são fashion, mas a week de lá é completamente diferente da nossa

O que é mais instrutivo para um bípede desantenado do que uma Fashion Week? Ora, duas Fashion Weeks seguidas, naturalmente! De modo que, depois da minha primeira experiência com o mundo da moda paulista, resolvi repetir a dose e ir à Fashion Rio, que está indo ao ar logo ali na esquina, no MAM, e termina hoje à noite. Curiosamente, não havia nenhum telefone celular sendo lançado; mas, mais curiosamente ainda, havia todo um estande — perdão, lounge — da Bombril.

Eu sou a primeira a reconhecer que a minha experiência na área é zero, mas mesmo profissionais tarimbados tiveram grande dificuldade em me explicar o sentido de um lounge da Bombril num evento assim. Para começo de conversa, no mundo da moda, pelo que vi até agora, as pessoas mal e mal tocam nos pratos; mas lavar panelas?! Com aquelas unhas compridas perfeitamente manicuradas?! Ah, me poupem...

Por outro lado, depois dessas duas últimas semanas, desisti de encontrar explicações e/ou lógica no planeta moda — a começar pela própria moda, para mim incompreensível, de trocar moda, esta palavra tão prática e familiar, por fashion . Ninguém conseguiu me explicar, também, por que semana, uma palavra tão sinuosa e sensata, tem que ser substituída por week, tão dura e angulosa.



Descontando a perplexidade causada por essas bizarras incongruências, achei, mais uma vez, muito divertido interagir com a tribo fashion (o termo é deles, não meu). Escolada pela semana paulista, arranjei uma blusa de linho preta bem legal; e tirei do armário o meu salto plataforma mais alto, não para sequer me aproximar das altitudes freqüentadas por modelos & similares mas para, pelo menos, não me sentir tão irremediavelmente liliputiana.

Acontece que o mundo fashion carioca é completamente diferente do paulista. Com exceção da Constanza Pascolato (que veio de São Paulo) e das recepcionistas de uma ou outra grife, ninguém estava de preto. E agora posso garantir que subir as rampas do MAM de salto não é tarefa para amadores.

Mas tudo bem, eu aprendo rápido. Dêem-me mais umas cinco ou seis temporadas e eu talvez consiga tapear com razoável eficiência a moça do cafezinho.



Por falar nisso, estava eu neste exato ponto da crônica, às 22h30m da última terça-feira, quando fui tomar café. Na cantina encontrei o Gustavo Villela, da Economia, que me perguntou o que eu tinha achado da feira de moda. Estranhei o interesse, mas o motivo era plenamente justificado:

— É que estamos dando matéria sobre isso amanhã. Parece que há uma guerra de esponjas de aço que acabou indo parar lá.

Ah! Explicado o mistério. Quem leu o jornal de ontem, portanto, já sabe o que a Bombril estava fazendo no MAM: auê, puro e simples. Tudo porque a Assolan (de que eu nunca tinha ouvido falar; como vocês vêem, a minha ignorância não se restringe a cosméticos) detém hoje 14% do mercado carioca de esponjas de aço, onde a Bombril reinava soberana até outro dia. Graças a esse auê, a Economia já falou no assunto, eu estou falando no assunto, e todos vocês, que achavam que as esponjas de aço viviam na santa paz do Senhor, agora sabem que há uma guerra de foice no setor. Vivendo e aprendendo.

Outra coisa que aprendi: porque as modelos fazem, sempre, aquela cara emburrada. Confesso que isso sempre me intrigou. Afinal, elas são jovens, bonitas, freqüentemente ganham caminhões de dinheiro — e, ainda assim, cismam em olhar para o mundo como se ele as estivesse tratando pessimamente.

— Graças a esse ar é que elas sempre saem bem nas fotos — me explicou a Iesa Rodrigues. — Antes de entrar na passarela, elas “congelam” o rosto; é uma questão de encontrar a própria cara e ir em frente. É por isso que desfile com gente comum nunca dá certo, é sempre patético.

Tá. Faz sentido.

Ainda continuo sem saber o porquê de fashion e de week , mas, de resto, acho que fiz progressos notáveis na área.

No ano que vem, volto ao assunto.



Um bocado de gente me mandou e-mail por causa da crônica da semana passada:

“O que mais amei nesta reportagem foi o sapato”, resumiu a Helenice. “Preciso desse sapato maravilhoso!”, exclamou a Angela. “Por favor, diga-me onde existe. Mesmo que não fique confortável nos meus pés, não haja meu número, vai servir como objeto de adorno, quiçá de culto!” “Parabéns pelos seus sapatos”, disse a Ellen.” “Por favor, onde você comprou essa babouche linda?” perguntou a Sandra. “Na edição de hoje, 30 de janeiro de 2003, Segundo Caderno, página 10, está uma foto de um par de sandálias que minha esposa gostaria muito de obter”, explicou o Nilton. “Gostaria de saber onde ela pode comprar, por favor, não deixe de me atender.”

Puxa. É emocionante mexer com os sentimentos de tanta gente mas, infelizmente, aqueles sapatos — comprados há uns três ou quatro anos na Anthropologie, em Los Angeles — já saíram de cartaz há tempos.

Eu avisei, pessoal: não ando na última moda.

(O GLOBO, Segundo Caderno, 6.01.2003)

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