10.2.03



Ainda o caso UOL

Os pequenos e médios provedores de acesso descartados pelo UOL estão se mobilizando através da Abraafi, Associação brasileira dos provedores de acesso e afiliados, para ir à luta. Muitos escreveram para o jornal na semana passada, a respeito da nota que publiquei; suas histórias são, previsivelmente, bastante parecidas, e falam de empresas que nasceram em fundos de quintal e quartos de empregada, às custas de muito trabalho conquistaram a sua clientela, cresceram, tornaram-se cobiçáveis, assinaram contrato — e agora têm que recomeçar do zero.
“E nós que pensávamos que a força do projeto Afiliados UOL tinha um grande peso de consciência social por parte de quem o criou!” diz um deles, do interior. “Que terrível nossa agonia! Faz dez dias que não consigo fechar os olhos!”

Mas os ex-afiliados do UOL não estão sozinhos. Hoje, com a “internet grátis” oferecida por provedores pertencentes a empresas de telefonia, a maioria dos independentes está com a corda no pescoço.

“Os provedores, pequenos e médios, têm sofrido um verdadeiro massacre das teles e têm convivido com situações surrealistas como essa do UOL e de seus ex-afiliados, e o que é pior, sem nenhum respaldo efetivo da Anatel ou de qualquer instituição governamental”, escreveu Tânia Eberhart, da Annex Informática, que escolhi como “porta-voz” pela concisão da mensagem.

“Sou diretora de um pequeno provedor no interior do RS e tenho como principais fornecedores os meus maiores concorrentes, que não têm interesse em nossa permanência no mercado. Quando fazemos denúncias, temos como conseqüência as retaliações mal disfarçadas que se dão através de “problemas” nos serviços que nos são prestados — pelos quais pagamos preços acima do valor real de mercado, e que são essenciais ao nosso funcionamento — e um suporte moroso, o que invariavelmente compromete nossa imagem junto aos clientes. É uma competição completamente predatória, em todos os sentidos.

É uma lástima que se permita o que está acontecendo com esses 255 provedores, ex-afiliados da UOL; mas todos os demais também vêm padecendo, de uma ou de outra forma, convivendo com as disparidades que mencionei. Precisamos, e muito, que a imprensa especializada fale sobre isso e desperte tanto o cidadão como aqueles que têm responsabilidade de regulamentar o mercado.”


Alguns usuários escreveram também. Uns indignados com a situação, leais aos pequenos provedores locais; outros queixando-se da rasteira, porque foram diretamente afetados pela ação do UOL. O “porta-voz” que escolhi entre eles é o Martinho Santos, de Miguel Pereira (que, no fim da mensagem, me disse que foi colega de planador do Paulinho, meu filho, na época em que morava em Brasília; um abraço grande, Martinho!):

“Li sua coluna de hoje e acrescento a informação que a UOL, com sua inopinada atitude, está causando outras vítimas, usuários que, como eu, acessavam a internet através de DDD para cidades mais próximas, no caso Vassouras e Barra do Pirai, pois resido em Miguel Pereira.

Com o novo número de acesso, tornou-se impossível discar para essas cidades, já que a única alternativa oferecida pelo UOL é acessar pelo Rio de Janeiro. Isso, obviamente, inviabiliza o nosso acesso, por causa do elevado valor da tarifa.

Já enviei àquele provedor inúmeros emails e fiz vários contatos telefônicos, sem qualquer êxito, sendo que agora nem respondem mais aos meus emails, ou sequer confirmam, automaticamente, seu recebimento. Tenho uma assinatura anual do UOL, inteiramente paga, vigorando até o próximo dia dez de agosto. Apesar disso, estaria sem acesso à internet se não tivesse entrado em funcionamento nesta cidade, no mês passado, um provedor local (MPlink), de que passei a ser cliente em emergência.

Estou próximo a apelar para o Procon e para a Anatel, pois minha paciência está no fim. Será que seriam os órgãos adequados? O que me aconselha a fazer para que adotem conduta de gente séria e honesta?”


O Procon e a Anatel são, sim, os órgãos adequados; infelizmente, nenhum tem demonstrado suficiente agilidade neste caso. Não posso fazer nada para que empresa alguma mude de conduta. A única coisa que posso aconselhar, ao Martinho e a todos, é, além de se armar de muita paciência, reclamar, reclamar, reclamar.

Um dia, talvez, alguém ouça o barulho.

(O GLOBO, 10.02.2003)

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