Nunca houve jogo como o Pac-Man
Esqueçam o Tetris, o Mário e o Doom. O game mais jogado — e, posso garantir, mais viciante — de todos os tempos chama-se
Pac-Man. Isso não é a afirmação leviana de uma jogadora apaixonada; é um fato. Nos seus vinte anos de vida, a pizza gulosa da Namco abocanhou US$ 100 milhões, acumulados em moedinhas de 25 centavos ao longo de mais de dez bilhões de jogadas.
Só em 1981, ano do seu lançamento, foram vendidas mais de cem mil máquinas de Pac-Man. E, ainda assim, como podem testemunhar, ainda hoje, os antigos aficionados, nunca havia máquinas suficientes para todos nos fliperamas. Eu mesma devo ter passado mais tempo esperando a minha vez do que jogando — pelo menos no começo, até pegar o jeitinho. Mais tarde, naturalmente, era eu quem chateava a fila.
Apesar desta quantidade de jogadas e de jogadores, o Pac-Man já era quase maior de idade quando, finalmente, alguém conseguiu fazer o número máximo de pontos: 3.333.360. O autor desta invejável façanha foi
Billy Mitchell, da Flórida. Para atravessar as 256 telas comendo todos os pontinhos, frutas e fantasmas com uma única vida, gastou um quarter ... e seis horas consecutivas de concentração e astúcia. Na época (julho de 1999), assim que soube da notícia, imaginei que ele fosse um adolescente desocupado; fiquei espantada quando descobri que tinha 34 anos e todo um negócio para cuidar.
Ele é o presidente da empresa da família,
Rickey's Hot Sauce, que fabrica molhos e, aparentemente, é também muito bem sucedido neste lado “sério” da vida. Tanto que, há uns dois anos, instituiu um prêmio de US$ 100 mil para o jogador que consiga ultrapassar a tela dividida que aparece depois da famosa tela 256. Esta tela é um dos grandes mistérios do Pac-Man: enquanto um dos lados do monitor continua mostrando o labirinto, o outro desaparece e, em seu lugar, entram cubos coloridos e números sem sentido. Alguns jogadores se gabam de ter ultrapassado esta tela, mas Billy Mitchell é categórico ao falar sobre o assunto:
— Eu alcancei a tela 256 centenas de vezes e nunca consegui passar dela, — declarou numa entrevista à revista Twin Galaxies, afirmando que os jogadores que alegam ter truques para ultrapassá-la nunca conseguiram demonstrar os tais truques. — O primeiro que aparecer com uma estratégia que funcione leva os US$ 100 mil.
Tim Balderranos, que foi campeão mundial de Pac-Man em 1983, diz que vai ser difícil alguém levar a grana, já que o que acontece depois da indigitada tela é que a ROM acaba. Quando o jogo estava sendo escrito em finais do anos 70, memória era coisa cara e escassa, e não passou pela cabeça de ninguém que alguém pudesse chegar tão longe. O que não impediu que, em 1982, o presidente Ronald Reagan mandasse um telegrama de congratulações a um garoto de oito anos, de São Francisco, que alegava ter feito mais de 5 milhões de pontos — uma impossibilidade teórica, ao menos, já que para isso ele teria que ter ido bem além da tela 256. A mágoa que este telegrama suscitou nos meios Pac-Man até hoje não passou de todo.
Mas Billy, que tem espírito esportivo e, já se viu, ama games (ele é o recordista mundial de Donkey Kong, também), instituiu outros prêmios de US$ 10 mil para jogadores que consigam alcançar um milhão de pontos nos jogos Ms. Pac-Man, Tutankham, Donkey Kong, Frogger, Rally-X, Berzerk, Hypersports e Carnival, e mais prêmios de mil dólares para quem consiga bater os recordes mundiais de quinze diferentes games. Isso sim, é apoiar a categoria!
(
O Globo, 15.10.01)