Comecei há alguns dias a brincar com um Nokia E7. Ainda não estamos totalmente íntimos, mas já dá para dizer que ele é o Nokia de que mais gosto em muito tempo. O formato é uma espécie de cruzamento entre o N8 e o N97 mini: seu look não muito diferente do N8, com o qual compartilha a mesma linha de acabamento, acoplada ao fator slide de teclado embutido do N97 Mini. É um descendente direto dos Communicator do passado e, como eles, é um aparelho sólido. Pesadinho para os padrões de plástico vigentes, o E7, apesar disso (ou justamente por causa disso) cai muito bem na mão. Sente-se firmeza.
Ele não é o único celular com que venho me distraindo. Há coisa de um mês tirei o simcard do Nokia N95 (que é o meu número “de verdade”) e passei-o para um Samsung Galaxy S. O topo da linha Galaxy é, aliás, uma das boas coisas da vida, seja nos tablets, seja nos celulares; mas esse nome faz confusão, porque a Samsung batizou com ele uma gama ampla demais de aparelhos.
O celular Galaxy S (que, no exterior, já enfrenta a concorrência de um irmão mais jovem e mais parrudo, o Galaxy S II) é um Android gostoso de usar, apesar da leveza e da aparência demasiado frágil. Ele é quase o avesso ideológico do Nokia E7, que não deixa dúvidas sobre a razão da sua vinda ao mundo: trabalhar duro.
Esse parênteses sobre o Samsung foi importante para poder contar da alegria que tive em usar o tecladinho qwerty do E7, depois de um mês inteiro lidando exclusivamente com touchscreens. Pode ser que, vinda de uma época em que os aparelhos eram feitos para durar, eu seja um dinossauro despreparado para os caminhos da atual tecnologia fast food, mas o fato é que, para mim, não há termos de comparação entre um teclado virtual e um teclado que faz jus ao nome, cheio de teclas palpáveis, reais, uma ao lado da outra. Essa velha tecnologia, que remonta ao Século XVIII, com a invenção da máquina de escrever, ainda tem seu valor neste ano de 2011: os milhões de usuários de Blackberry que o digam.
Além da questão do teclado, o E7 levanta uma outra, não menos importante: a do sistema operacional. Nesse momento, o Symbian é o patinho feio do mundo móvel. Sua própria mãe, a Nokia, preferiu adotar um estranho total, o Windows, a cuidar da sua sobrevivêmcia. Mas é importante observar que ninguém ainda declarou a morte do Symbian que, a essa altura, é um sistema extremamente sólido e testado, e que pode ter ainda alguns anos de sobrevida.
Em quem apostar? A meu ver, há uma diferença enorme entre “acionista” e “usuário”. Eu não recomendaria a nenhum acionista investir, agora, em qualquer coisa Symbian; mas acho que, para um usuário Symbian que quer mudar de telefone, não há por quê mudar de plataforma. O E7 está redondinho, trabalha bem e tem a clássica interface com a qual estamos acostumados há anos. Não acho que isso seja pecado; ao contrário, em muitos casos é uma grande virtude.
A loja Ovi, que em breve passará se chamar Nokia, não se compara, em termos de estoque, com a Appstore ou com o Android Market. Mas, ao contrário do que a Apple nos quer fazer crer, o uso do celular como base para aplicativos não é uma necessidade universal. Por incrível que pareça, o mundo está cheio de gente que só quer usar seu aparelho como telefone. O potencial usuário do E7, um poderoso smartphone, não exige tão pouco; mas entre 8 e 80 há um monte de números.
O que eu quero dizer com tudo isso, em resumo, é que o mundo é mais vasto e variado do que imaginamos, que não se divide apenas entre iOS e Android, e que nele há, ainda, muito espaço para o Symbian, sobretudo quando ele roda num aparelho tão bom quanto o E7.
Vou voltar a falar dele quando estivermos mais íntimos, mas adianto, desde já, que ele é um smartphone que recomendo a qualquer usuário Nokia que esteja querendo fazer um upgrade.
(O Globo, 4.6.2011)
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