25.6.11

O Android numa encruzilhada



De uns tempos para cá, a internet tem apresentado uma quantidade alarmante de pensatas a respeito do futuro do Android, e nenhuma delas é propriamente otimista (quando digo “internet” leia-se, claro, os sites, blogs e revistas que acesso online). O motivo é sempre o mesmo: falta unidade ao Android como plataforma.

Pessoalmente, acho que essa falta de unidade pode ter aspectos tanto positivos quanto negativos. O grande fator positivo é que, dentro de um mesmo sistema, o usuário pode encontrar modelos mais adequados às suas necessidades ou gostos. O aspecto negativo é que isso atrapalha o desenvolvimento de aplicativos, confunde os usuários que trocam de aparelho e não dá ao Android a unidade que faz com que usuários do Windows ou dos produtos da Apple saibam exatamente em que chão estão pisando.

Steven J. Vaughan-Nichols, da ZDNet, lembra, por exemplo, o caso clássico do CP/M-80, o sistema que os PCs rodavam na era pré-MS. Ele era essencialmente o mesmo, mas cada fabricante tinha uma interface diferente, acrescida de diferentes badulaques. Se eu saísse da minha máquina, por exemplo, e pegasse a de um amigo, levava certo tempo até encontrar o caminho das pedras. Pois a Microsoft comprou um desses sistemas, transformou-o no MS-DOS, fez uma venda decisiva para a IBM e o resto é História. Todos os PCs passaram a funcionar da mesma forma, independentemente dos programas acrescentados pelos usuários; a Microsoft transformou-se no Império do Mal, vilipendiado em todos os quadrantes do planeta, mas seus diretores acabaram na lista de homens mais ricos do mundo e o Windows é, hoje, presença quase universal nos PCs. A própria máquina em que digito essas mal tecladas roda o Windows 7, que considero o melhor sistema operacional em funcionamento. Ponto para Darth Vader.

Outro argumento contra a variedade de sabores do Android: parte da fórmula do sucesso da Apple é, a meu ver, algo que eu, pessoalmente, detesto -- um sistema rigorosamente fechado, em que ninguém pode mexer. A questão é que, para a maioria das pessoas, esta é uma fórmula muito reconfortante. É preciso uma disposição de espírito especial para gostar de fuçar nas entranhas de um computador, e se há tribos que se divertem com isso, o fato irrefutável é que minorias não são base para o sucesso de vendas de um produto de massa.

Desde que tirei o meu simcard do Nokia N95, passei a ser uma usuária satisfeita de Android. A diversidade de versões e o jeitinho que cada fabricante dá ao “seu” Android me permitem escolher qual Android prefiro. Por causa disso, uso, no momento, o Motorola Atrix, em detrimento do Samsung Galaxy S – cuja interface, por acaso, acho mais bonita. É que o widget de agenda da Motorola me mostra os meus três próximos compromissos, em vez do único compromisso mostrado pelo da Samsung. Parece uma bobagem, mas é vital para mim, mais até do que o hardware do aparelho. Ponto para os diferentes sabores do robozinho verde.

Apesar disso, reconheço que os meus colegas alarmados com o futuro do Android têm razão nas suas ponderações: neste momento, ele tem oito diferentes versões no mercado. É um pouco muito, tanto para desenvolvedores quanto para usuários. Alguém tem que tomar conta do Android, ou ele vai acabar sendo apenas um lindo parágrafo na história dos sistemas operacionais.

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O aplicativo de hoje é o Bamboo Paper da Wacom, exclusivo para iPads, que está sendo distribuído de graça na Appstore até o fim do mês. Não encontrei nenhum outro, até agora, que me permita escrever à mão ou desenhar tão bem no tablet. E ele tem gracinhas suplementares, como a criação de “caderninhos” separados, com capas e títulos diferentes. Corram lá, que falta pouco para o fim da promoção!

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A
s fotos são umas coisinhas que subi para o Instagram ao longo da semana.


(O Globo, Economia, 25.06.2011)

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