18.11.02



Piratas não; ladrões!

E mais uma vez a Associação Brasileira das Empresas de Software (Abes) volta a atacar, desta em vez em conjunto com a Interactive Digital Software Association (IDSA), associação que combate a pirataria de games (leiam AQUI). Os argumentos são os de sempre e, juro, já ando cansada de escrever sobre isso: a culpa é do governo que não toma providências, do usuário que não é instruído, dos traficantes de drogas. Falta pouco para ser também da Al Qaeda. Em suma: é de tudo e de todo mundo, menos dos preços abusivos cobrados por certos softwares e jogos no país.

O usuário não quer ser pirata por vocação; pelo contrário. Acredito que a maioria de nós compraria seu software e seus games legalizados, se os preços não fossem tão inadequados à nossa realidade. Sim, eu sei: agora vou receber inúmeros emails de produtores me provando, por A + B, que é impossível vender mais barato. No caso do software nacional, até acredito. No caso do software que vem de fora, ou seja, 100% dos games, não. Quando um game chega ao Brasil, o custo do seu desenvolvimento já foi pago várias e várias vezes no exterior. Mas quem pensa em vender mais barato para vender mais?

Outros pontos que me incomodam na gritaria da Abes: o primeiro é a afirmação de que o índice de pirataria nos EUA é de 5% e, no Brasil, de 70%. Nem vou entrar no mérito da questão, da comparação entre as duas economias e de como se chegou a esses números; mas não duvido que, em termos absolutos, os 5% de lá estejam perto dos 70% daqui. O segundo ponto: “A economia brasileira perde, por ano, pelo menos US$ 50 milhões com a pirataria”. Perderia, Abes, perderia, se todo mundo que compra nos piratas comprasse no mercado legal. Mas isso está longe da verdade. Na pirataria, as pessoas compram até o que não precisam, o que não fariam no mercado legal.

Fora isso, concordo com a causa, ainda que discordando do termo usado, pirataria. Piratas são pessoas que trocam software entre si, sem auferir lucro — e aí a conversa é outra. Gente que rouba a propriedade intelectual alheia para revendê-la chama-se ladrão, mesmo. Favor não confundir.

(O GLOBO, 18.11.02)

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