12.6.02



Respondendo a um comentário

"Um jornalista foi assassinado. Isso é mau, mas não é motivo para tanta repercussão.

Muitas mais pessoas são assassinadas diariamente, seja durante o seu trabalho ou não.

Diferentemente deste jornalista, a maior parte dessas pessoas tenta levar uma vida pacata, não vai atrás do perigo.

Mas como o jornalista era da Globo e amigo de muitos outros jornalistas, o seu assassinato tem um impacto muito maior na imprensa.

Isso não tem nada a ver com "liberdade de informação". Não é o mesmo caso de uma ditadura impondo a censura. Basta um único marginal se sentir incomodado com o trabalho do jornalista e decidir se livrar dele.

A verdade é que há pessoas assassinadas por muito menos.

Não estou menosprezando o assassinato. Apenas acho este mais um caso entre tantos que fazem com que a situação seja terrível. Ronaldo"



Desculpa, Ronaldo, mas há, sim, um motivo especial para a repercussão da morte do Tim, como houve para a repercussão da morte do Daniel Pearl, no Paquistão -- e não é que um trabalhasse para a Globo e o outro para o WSJ, e que tivessem, ambos, muitos amigos jornalistas.

Nenhum deles estava onde estava ao ser capturado indo "atrás do perigo". Eles iam atrás de acontecimentos e de informações preciosas para que uma sociedade possa saber de si mesma, possa ter idéia do que está acontecendo em suas diversas camadas. Como é que você poderia saber do que está acontecendo nos morros cariocas sem o trabalho de repórteres como o Tim? Como é que nós poderíamos saber o que está acontecendo nas muitas zonas de guerra do mundo sem o trabalho de repórteres como o Pearl?

Se eu tivesse sido assassinada no lugar do Tim, aí sim, seria "um caso entre tantos", já que, apesar de jornalista, eu tento, como diz você, "levar uma vida pacata": o maior risco profissional que corro é pegar uma tendinite. Eu não estaria lá tentando obter informações, tentando descobrir uma verdade que a polícia evita, por omissão ou pura covardia; eu não estaria lá me arriscando para tentar sacudir a sociedade e o estado e dizer: OLHEM ISSO, VEJAM O HORROR QUE ESTÁ À NOSSA VOLTA!

Como você, eu só sei desse horror através das palavras de colegas como o Tim, que têm consciência social e coragem suficientes para ir até lá, e nos contar, quando voltam, a que ponto chegamos.

Para a população que "tenta levar uma vida pacata" mas é vítima constante da brutalidade do tráfico, de um lado, e da polícia, do outro, um repórter como o Tim é a única esperança de que algo aconteça, algo mude para melhor.

A morte de um repórter numa zona conflagrada é -- como a morte de um médico ou de um enfermeiro, outros profissionais que têm essa mania de "ir atrás do perigo" -- a morte do último resquício de esperança para quem já não tem mais nada.

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