A Pedra do Reino
Eu devia ter 20, 21 anos; já tinha devorado umas duas ou três bibliotecas, e lia tudo o que me caía em mãos. Pois um dia caiu "A Pedra do Reino", de Ariano Suassuna: quase 800 páginas que comecei a ler meio distraída, e que me agarraram de jeito.Na época, todo o universo criado por Suassuna estava muito presente na minha vida. Eu estava morando em Brasília, no que até hoje considero uma espécie de exílio; o que tornava a cidade suportável eram os amigos, vários deles nordestinos e envolvidos com o Movimento Armorial.
Durante um tempo, que não sei quanto durou, vivi mergulhada naquele romance fabuloso (em todos os sentidos). Acordava, almoçava e jantava pensando naquele mundo, ao mesmo tempo agreste e refinado, tão diferente de tudo o que havia lido até então.
Quando terminei, fiquei tão desconsolada de ter acabado que, imediatamente, recomecei tudo de novo.
Que A Pedra do Reino tenha ficado vinte anos fora de catálogo é uma vergonha nacional. Ao longo desses anos todos me batia, volta e meia, a amargura de entrar numa livraria, ver tanta porcaria à venda e não encontrar o meu velho e maravilhoso amigo.
Como se pode roubar de tanta gente a convivência com um dos melhores livros jamais escritos no país?!
Finalmente, há uns dois ou três meses, saiu uma nova edição do livro -- e hoje o Prosa e Verso traz uma ótima entrevista com Suassuna. Leiam, e depois, se posso dar um conselho, leiam também o romance.
É grande e é "difícil", mas é uma aventura intelectual inesquecível.
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