16.6.05




O triunfo dos blogs

Assim como, no outro dia, no auge da crise, o presidente Lula confessou que o que realmente o fez sofrer foram os angustiantes minutos do jogo contra a Argentina, eu confesso que, durante todo o depoimento do deputado Roberto Jefferson, o que realmente mexeu comigo foi a rapidíssima referência que ele fez ao blog do Noblat; mais precisamente, ao "blig" do Noblat, posto que assim se chamam os blogs do IG. Uma referência comum, normal, como a referência a qualquer outra forma de comunicação bem conhecida, como rádio, jornal ou televisão.

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Fiquei encantada. Como nerd , como blogueira de primeira hora, como leitora de blogs e crente incondicional do blog como ferramenta de democracia e de comunicação, a idéia de que um deputado já possa se referir a um blog sem precisar explicar à nação o que ele é me encheu de orgulho e de contentamento: chegamos lá!

É claro que teria sido mil vezes melhor ver esta maravilha da internet ser alçada ao centro da vida política brasileira em circunstâncias mais nobres e através de um arauto com melhores antecedentes e maior credibilidade; se eu pudesse escolher, certamente preferiria o outro Jefferson, o Peres, que é uma figura digna e correta ? mas também não se pode ter tudo...

Afinal, há um ou dois anos era quase impossível encontrar esta palavra, blog, sem um parênteses ao lado, explicando que, apesar da fama de diários de adolescentes, blogs também são usados por não-adolescentes para fins eventualmente sérios. Nos EUA eles chegaram à maturidade naquele 11 de setembro de horrenda memória; no Brasil são discutidos há tempos e, aqui no GLOBO, já foram até incorporados à nossa edição online.

Ainda assim, acho que a referência no depoimento do deputado ? feita num momento histórico, para um país paralisado diante da TV, e consagrada nas áreas de comentário ? pode ser considerada um marco.

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Nos blogs mais populares, as áreas de comentário correspondem a verdadeiras mesas de botequim virtuais, onde, todos os dias, batem ponto pessoas com interesses mais ou menos parecidos, sejam esses interesses política e economia ou cerveja e mulheres peladas. Como na "vida real", é normal que, em momentos de crise, todos corram para discutir uns com os outros o que está acontecendo.

A dinâmica das áreas de comentários é curiosa: como em qualquer botequim de esquina, as pessoas vão se conhecendo aos poucos e percebendo, no bate-papo contínuo, o seu próprio potencial de comunicação. Muita gente chega tímida e fica calada por meses a fio; outros erram o tom, quebram garrafas e acabam expulsos da comunidade.

Não raro, os melhores comentaristas partem para carreiras solo, abrindo seus próprios "botequins" -- blogs que já nascem com uma pequena audiência cativa, e que crescem ou desaparecem de acordo com a persistência e a pauta do autor.

A internet é uma rede de conversas, um mar de vozes, onde só fica sozinho quem quer. Neste burburinho incessante, o importante é não deixar a peteca cair.

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Do blog do Moreno, meu queridíssimo coleguinha da sucursal de Brasília, resumindo o depoimento do deputado Roberto Jefferson:

"Antes de se saber se a oposição conseguiu ou não acuar o governo, fica a constatação de que o próprio Congresso, os partidos e a política em geral saíram perdendo. Um jogo feio, sujo, triste e que não dá muitas esperanças ao povo."

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Acabou, finalmente, o julgamento do Michael Jackson. E acabou, pelo menos a meu ver, da forma certa: com a absolvição daquele pobre freak , que com certeza tem menos culpa no cartório do que uma mãe que deixa o filho na sua (dele) companhia. Pensem bem: vocês deixariam seus filhos pequenos, de qualquer sexo, em companhia de Michael Jackson?!

Tenho pena dele, que nunca teve uma vida normal e que, na verdade, nunca cresceu. Não acredito que busque a companhia de meninos por pedofilia, mas sim por uma questão de nível mental: é difícil dizer o que é Michael Jackson, mas ele definitivamente não é um adulto plenamente responsável por seus atos.

Teria sido mais justo que tivesse sido processado -- e ido em cana -- quando apareceu expondo um bebê na janela, perigosamente; como um irmão mais velho, digamos, levaria uma bronca se fizesse isso com o mais novinho.

Já quanto aos pais e mães que deixaram os filhos passar a noite em Neverland, não tenho qualquer dúvida: esses deveriam, no mínimo, perder a posse das crianças.

(O Globo, Segundo Caderno, 16.6.2005)

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