O sentido da História
Escrevi este texto como colaboração para o blog do Noblat; a data é virtual, 24 de agosto de 1954.Se o impacto dos suicídios pudesse ser medido pela escala Richter, o gesto do ex- presidente Getúlio Vargas certamente ultrapassaria os 6.8 pontos do terremoto verificado às 5h51m de hoje em Stillwater, EUA. Não há nada na memória recente do Brasil que se compare ao abalo que, neste momento, sacode o país.
Ainda que seja difícil avaliar no calor da hora e no epicentro da tragédia a magnitude da sua repercussão, é inquestionável que o suicídio de Getúlio é, desde já, um dos pontos de maior destaque da História do Brasil. Uma história que -- para nossa possível felicidade -- carece de bons elementos dramáticos.
A despeito de qualquer opinião que dele se faça, cumpre reconhecer que o ex-presidente teve, como poucos, o sentido dessa História. Seu último gesto reveste-se de tal carga emocional que, daqui para a frente, será impossível avaliar com serenidade qualquer aspecto da sua herança.
O suicídio não deu fim apenas à sua vida, mas também à objetividade da memória coletiva. Assim, a notícia que ouvimos cedo no rádio e que logo estaremos lendo nos jornais continuará ecoando ao longo dos anos, repetida -- e reinterpretada -- em centenas de livros, peças de teatro, filmes e novelas de rádio, para sempre gravada no imaginário popular.
Não será de admirar se, daqui a 50 anos, os brasileiros ainda estiverem falando deste 24 de agosto de 1954 como se fosse hoje.
Agora, em 24 de agosto de 2004, acho lamentável, sinceramente, que isso seja assim. Acho patético que se estejam erguendo memoriais para o Vargas, inclusive aqui no Rio -- como se já não houvessem suficientes bustos e monumentos, e ruas, avenidas e praças Getúlio Vargas espalhados pelo país.
A única coisa que me consola é olhar para a Argentina, e ver que a coisa podia ser bem pior.
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