9.8.04



As ‘fotinhas’ conquistam
novos territórios



As pequenas imagens feitas com telefones celulares, que eu gosto de chamar de “fotinhas” (apesar de saber que o diminutivo de foto é fotinho, como volta e meia me lembram os leitores) começam, finalmente, a ganhar espaços sérios. Na quarta-feira passada, a Reuters divulgou a cena da prisão de um suspeito de terrorismo em Londres, clicada por um vizinho que observava a cena da janela — de telefone em punho. A foto, bastante tratada para redução de pixels, foi publicada por diversos jornais no dia seguinte, entre os quais O GLOBO.

Que eu me lembre, esta foi a primeira vez que uma agência noticiosa divulgou uma foto de celular no que se chama, em jargão, de “hard news”, ou seja, aquela notícia quente, de primeiro caderno — e não em reportagens relativas à tecnologia em si. A televisão, mais complacente com imagens menos-que-perfeitas, já faz uso, há algum tempo, de vídeos captados por celular; na BBC, eles são corriqueiros na cobertura de conflitos ou acidentes em locais remotos. Faz sentido: é sempre melhor ter uma imagem, por fraquinha que seja, do que ter apenas a voz do repórter ao telefone. Afinal, com todos os seus “defeitos”, as imagens do homem pisando na lua pela primeira vez estão entre os ícones visuais de maior impacto do século passado.

Ao mesmo tempo, do lado do mundo que se diverte, a Nokia informa que, no sonarsound São Paulo, versão brasileira do espetacular sònar de Barcelona, haverá uma mostra chamada Life goes mobile, que fará parte da segunda edição do Nokia Trends. Nela os artistas usarão tecnologia móvel como parte das obras. Não só celulares, mas também seus acessórios, como, por exemplo, o Image Frame, uma moldura conectada na qual se visualizam imagens que chegam pela internet. A idéia básica é ampliar as fronteiras de atuação e de aceitação das novas plataformas. O que impede uma imagenzinha de celular de fazer parte de um conjunto artístico, ou de ser, ela própria, devidamente considerada arte? Tudo é questão de costume, de referência e, em última instância, de olhar: tanto o de quem faz, quanto o de quem vê.

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Começa amanhã, em São Paulo, a PhotoImageBrazil (assim, em inglês, tudo junto) 2004, dirigida a lojistas e profissionais de fotografia, mas feita sob medida para fãs de câmeras digitais. Com os principais fabricantes entre os mais de cem expositores, a feira mostra o que vai chegar ao mercado até o fim do ano. Ou seja: é uma oportunidade e tanto para namorar a próxima máquina. Mas lá também, apesar da concorrência das câmeras “de verdade” com cada vez mais features e megapixels, as fotinhas estarão em destaque, no Forum de convergência tecnológica, que acontece no dia 12. De 10 a 12 de agosto, a feira, que se realiza no Centro de Exposições Imigrantes, das 14hs às 21hs, é aberta exclusivamente para profissionais. O público em geral entra, grátis, no dia 13.

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Com um currículo invejável, mas desempregado há dois anos, Harding Leite, expert em telecomunicações, embarcou ontem para a China, depois de oito meses de estudos intensivos de mandarim. Vai passar pelo menos três meses lá, sozinho, tentando a sorte na marra. Está deixando a mulher e os dois filhos aqui, e a sua saga seria semelhante a tantas outras se, antes de ir, ele não tivesse lançado uma sólida âncora online, o website chinadireto.com.br, onde oferece os seus serviços e onde, assim que chegar a Pequim, se poderão acompanhar as suas aventuras. Harding é, mal comparando, uma espécie de Amyr Klink do “espetáculo do crescimento” — que ele, escaldado, prefere procurar onde está, realmente, acontecendo. Boa sorte, viajante!

(O Globo, Info etc., 9.8.04)

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