O ser humano sempre usou tabuletas para escrever, como se pode ver em esculturas e pinturas do Antigo Egito ou em mosaicos romanos; na Índia, em escolas pobres demais para distribuir papel e lápis às crianças, ainda hoje elas aprendem usando pequenas lousas e pedaços de giz. O formato pode ser visto em uso ativo em inúmeras profissões e circunstâncias: onde houver uma prancheta com um bloco e algum instrumento de escrita, lá está um tablet analógico, primitivo, que não precisa de tomada, um velho avô do iPad.
A idéia de criar um computador de molde tão familiar sempre foi algo óbvio para a indústria. Até a explosão do iPad, contudo, sempre faltou alguma coisa para o seu sucesso: ou material suficientemente leve, ou processador suficientemente rápido, ou um sistema operacional consistente, ou aplicativos interessantes, ou interesse dos consumidores, quando não tudo junto, ao mesmo tempo.
Confesso que vi tantos tablets serem lançados ao longo das últimas décadas que cheguei a duvidar das possibilidades de sobrevivência do iPad. No seu caso, porém, juntaram-se diversos fatores auspiciosos, a começar pela interface, quase idêntica à do iPhone, que já tinha milhões de usuários, aliada à existência de milhares de aplicativos que ou funcionavam igualmente bem nos dois aparelhos, ou eram transpostos com um mínimo de esforço e de tempo. Em suma: quando o iPad chegou ao mercado, não só tinha todas as características necessárias para agradar ao público, como tinha um público mais do que familiarizado com o seu jeito de ser, pronto para recebê-lo.
Em tese, qualquer usuário de iPhone é um usuário de iPad em potencial, assim como os usuários de smartphones Android são potenciais usuários de tablets da mesma família. Não há nenhum grande salto de aprendizado a ser dado, nenhuma forma radical de uso a ser domada. Essa semelhança faz com que as pessoas que não têm tablets imaginem que eles não passam, no fundo, de smartphones grandões; e isso, ao mesmo tempo em que é verdade, também não é.
Há muito poucas coisas que se fazem com um tablet que não possam ser feitas com um smartphone, mas a escala de tamanho dos aparelhos faz toda a diferença. Hoje eu vejo os smartphones como pequenos tablets quebra-galho, que podemos usar quando nossas tabuletas não estão à mão, ainda que uma coisa seja uma coisa, e outra coisa seja outra coisa. Ler revistas ou desenhar num tablet é prazer que não pode, de forma alguma, ser replicado num smartphone; mas, ao mesmo tempo, fazer ou receber chamadas nos tablets é uma inconveniência só.
Ter um tablet é realmente necessário para quem já tem computador? A resposta honesta é não; a resposta de quem já se viciou irremediavelmente no formato é sim. O tablet tira o usuário da mesa de trabalho e o torna móvel dentro de casa; usá-lo tem um lado lúdico que nem mesmo o computador mais poderoso oferece, porque, pela sua forma e peso, ele pode ser carregado para todos os lados, tornando-se de fato uma extensão intelectual de quem o utiliza. Das três máquinas que me ajudam a trabalhar – o desktop, o notebook e o tablet – é a tabuleta a que mais me ajuda, e com a qual gasto mais tempo. Ela tornou-se também a minha parceira favorita de jogos, e a substituta das revistas que, antes, acumulavam-se em pilhas na minha mesa.
Curiosamente, livros e jornais continuo preferindo em papel, embora o meu Kindle esteja cada vez mais recheado.
Embora, como escrevi no primeiro parágrafo, os tablets não sejam uma idéia nova, o seu uso indiscriminado é. Esta é uma viagem maravilhosa que mal começou, e que vai nos levar por espaços nunca dantes navegados. Vamos nessa.
3 comentários:
Eu achei a acusação um perfeito set up, oportuno como a propria oportunidade! Ao tempo, também falei disso.
http://mukandasdonelsinho.blogspot.com/2011/05/dsk.html
Na época, também achei o fato estranho. Muito.
Perdão, misturei as estações. Esse comentário foi o que fiz sobre o homem do FMI.
Neste, estou meio perdida...
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