7.5.11

Xoom, um campeão mal vestido


Tudo no Xoom parece bradar aos céus que ele não é um iPad – a começar pela embalagem. Desde que o primeiro iPhone surgiu no mercado com a já clássica caixinha preta e pequena, numa época em que as caixas de celulares eram grandes e coloridas para chamar a atenção nas prateleiras, todo mundo mudou para o mesmo formato de embalagem.

Quando abri o Samsung Tab, poderia jurar que a mesma empresa que fez o design de embalagem para a Apple havia sido contratada. Fiquei mal impressionada. O recado que aquela embalagem transmite é o da mais pura imitação (o que, de resto, é muito injusto com o Samsung Tab, que é um tablet original e completamente diferente do iPad).

O Xoom, ao contrário, rema contra a corrente com sua caixa azul e vermelha, muito pouco estilosa. Merecia um tratamento visual mais caprichado. Isso, em tese, não tem muita importância, porque a caixa se joga fora e o que importa é o que está lá dentro – mas embalagem, hoje em dia, é coisa quase tão séria quanto o produto que acomoda. É parte fundamental do marketing, uma das armas mais pesadas da Apple, a empresa contra a qual todos os tablets competem.

Sob este aspecto, parece que a Motorola não tem feito um bom trabalho, pelo menos nos Estados Unidos. Meu filho tem uma empresa de desenvolvimento de software em Austin e perguntei a ele o que estava achando do tablet. Tipicamente, ele desmanchou-se em elogios à máquina, mas concluiu com uma observação relevante:

“O Xoom é, na minha opinião, o pior exemplo de marketing nos últimos anos. A maneira como foi lançado, a data na qual foi lançado (em cima do iPad 2), e a maneira como está sendo vendido -- sem qualquer destaque, em prateleiras comuns do BestBuy, ao lado de netbooks da Acer -- é de doer. Fui procurar um lá no BestBuy, justamente, achando que ia ter uma fanfarra danada. Que nada. A propaganda na televisão mostrando que "não é o iPad" é ainda pior. Que tal explicar o que é, ao invés do que não é? Sinceramente não entendi. Achei que era só implicância minha, mas o resto da galera está dizendo a mesma coisa.”

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Comecei por aí por uma razão: gostei muito do Xoom (pronuncia-se Zoom), e gostaria que ele tivesse um marketing à sua altura. Sob muitos aspectos – a bem dizer quase todos – ele é superior ao iPad (falo da primeira geração, que mal chegou ao Brasil). Tem duas câmeras, uma frontal e uma traseira (coisa que o iPad 2 já tem); é superior em desempenho de máquina e em resolução de tela; em software, já que roda Android, sistema  mais flexível do que o iOS; em personalização e, digamos, “obediência ao dono”, já que não depende do abominável iTunes para nada.

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O iPad é superior em dois pontos: semelhança com o iPhone e o iPod Touch, o que se traduz em simplicidade de uso; e o charme indiscutível da Apple, fruto de um marketing campeão associado a produtos nem sempre bons, mas sempre inovadores e muito bonitos.

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O Xoom é mais comprido do que o iPad (10,1” versus 9,7”). A resolução da tela, como disse antes, é melhor, mas isso, honestamente, nem se percebe – tanto Xoom quanto iPad são colírios hi-tech. O peso dos dois é praticamente igual. A capacidade de armazenagem do Xoom é expansível via cartões SD, e ele tem porta HDMI, mais duas claras vantagens sobre o iPad.


Ainda assim, acho que a principal diferença entre os dois é o estilo de uso. O iPad, que poderia ser definido como um iPhone grandão, foi claramente desenvolvido para ser usado na vertical; o Xoom, na horizontal. Simplificando: o iPad é perfeito para ler revistas, o Xoom para ver filmes. O iPad parte do princípio de que o usuário o segurará apenas com uma mão; o Xoom é um aparelho para ser segurado com as duas mãos.

Este formato é mais confortável no uso diário porque, embora os dois sejam mais leves do que um notebook ou um netbook, nenhum é leve o suficiente para ser sustentado numa única mão durante horas. Este trunfo, por enquanto, é exclusivo do Kindle, que é um animal completamente diferente; e, com uma certa boa vontade, do Samsung Galaxy Tab.

Na semana que vem, eu volto ao assunto. Tema: o software do Xoom, e a palpitante questão dos aplicativos. Até lá!  


(O Globo, Economia, 7.5.2011)

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