Há perguntas aparentemente inocentes que são muito difíceis de responder. Exemplo: me perguntaram ontem quais são os cinco gadgets indispensáveis da minha vida. Cinco? Parece pouco, mas, pelo contrário, é muito: pensando bem, e com sinceridade, o único tech-objeto realmente fundamental da minha vida é o celular.
Isso explica, talvez, porque acho tão difícil encontrar um que faça tudo o que espero dele, e com a qualidade que preciso. O celular é a minha câmera compacta, o meu player de música, a minha calculadora, o meu conversor de medidas, o meu bloco de anotações de viagem, o meu GPS, o meu gravador... e, claro, às vezes é até o meu telefone.
O que mais eu poderia acrescentar à lista? Corri para a Wikipedia para ver o que pode ser oficialmente considerado gadget. Eis a definição:
“Gadget (em inglês: geringonça, dispositivo) é um equipamento que tem um propósito e uma função específica, prática e útil no cotidiano. São comumente chamados de gadgets dispositivos eletrônicos portáteis como PDAs, celulares, smartphones, leitores de mp3, entre outros. Em outras palavras, é uma "geringonça" eletrônica.”
Portanto, em tese, gadget é um treco com pilha ou tomada. E isso me ajudou a encontrar o segundo gadget ao qual dou grande importância: o carregador de pilhas. É espantoso o número de coisas que me cercam que precisam de pilhas. Além de todos os controles remotos, uso teclado e mouse sem fio. Isso equivale a uma ou duas trocas mensais de dois jogos de duas pilhas. Inviável e antiecológico ao extremo com pilhas comuns, mas perfeitamente razoável com pilhas recarregáveis.
Eu disse tomada? Pois chegamos, então, ao terceiro gadget da parada: o adaptador universal, que já me salvou a vida na Inglaterra, na Índia, na Dinamarca e em outros cantos dotados de tomadas esquisitas. Um adaptador universal não pode ser considerado um gadget ortodoxo, porque não se resolve em si mesmo, mas acho que posso me dar essa liberdade editorial. Afinal, onde mais seria noticiada a existência de um novo modelo, se não numa seção de gadgets?
Faltam ainda dois gadgets para completar a lista. Um dos objetinhos mais úteis que me cercam é o pendrive da Kingston, um data traveler de 32Gb, que uso para carregar fotos de cá pra lá, e para transferir arquivos entre diferentes máquinas quando é pouca a coisa. Elemento parecido, guardadas as devidas diferenças, é o Seagate externo de 500Gb, no qual está o backup do grosso do meu trabalho. O pendrive é mais gadget por ser miúdo e portátil; o Seagate corresponde melhor à descrição oficial por precisar de tomada. Vou deixar esta importante decisão por conta do Lucas Landau, que me fez a pergunta.
Falta, afinal, um único gadget. E agora? Tenho uma linda lanterna de leds que é uma mão na roda para iluminar as entranhas do computador quando, por algum motivo, preciso abrir a caixa; ela também é muito útil em tempos de apagão. Mas será que uma lanterna de leds não é coisa prosaica demais, utilitária demais, para que possa ser qualificada como gadget?
Ou escolho o antigo iPhone, ainda daquela primeira geração de lombo prateado? Este quase não foi usado como telefone, mas, quando o aposentei, passou a desempenhar um papel crucial na vida da casa. É que comprei um daqueles ótimos amplificadores da Bose, espetei-o lá e, desde então, ele cumpre com louvor a função de som da sala. Nos seus 8Gb cabem as minhas óperas favoritas, muito Bach, uma quantidade de músicas soltas e quase toda a maravilhosa coleção de world music da Putumayo, com capinhas coloridas e tudo.
É, acho que a lanterna de leds acabou de dançar.
(O Globo, Revista Digital, 13.9.2010)
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