Hoje vamos passar o dia todo navegando; amanhã começa a vida de escalas, com paradas diferentes a cada dia. O navio é monstruoso, em todos, ou quase todos, os sentidos: feio e espaventosamente mal decorado, com um excesso de informações (ruins) por todos os cantos; e monstruoso de grande.
A decoração é temática, "Fellini".
Não é brincadeira; o tema é Fellini mesmo, seus filmes e o clima dos seus filmes. Não sei o que ele teria achado dos excessos Las Vegas da coisa, mas nós estamos em estado de choque. Não há um ponto para o qual a gente olhe e diga, "Nossa, que bonito", simplesmente porque este ponto não existe.
Uma vez que se consiga esquecer o décor, porém, a experiência -- até aqui -- tem sido legal. As pessoas todas que nos têm atendido são prestativas e gentis, a comida é ótima, a cabine -- que felizmente não tem os excessos dos espaços externos -- é confortável e bem pensada do ponto de vista da arquitetura. As camas são boas, o chuveiro ótimo e nosso camareiro, um rapaz da Indonesia chamado Ketut Ratya, é uma simpatia.
Há alguns brasileiros na tripulação; um deles, o Gustavo, carioca da Barra, trabalha numa espécie de front desk que atende por "serviços aos hóspedes", e não sei como não fica maluco com tanta gente querendo tanta coisa ao mesmo tempo.
* * *
Houve um belo transtorno na chegada. Minha mala não apareceu até às dez da noite, quando resolvi ir pessoalmente até o tal front desk -- depois de ter sido tranquilizada N vezes pela tripulação de que não precisava me preocupar, e que ela estava a caminho.Pois a mala estava lá, retida pela segurança, que cismou com um cavalinho de cristal que comprei na Suécia, e que era difícil de identificar no Raio-X. Queriam que eu abrisse a mala para ver o que era aquilo. Até aí tudo bem, o mundo está bitolado e paranóico; mas não se aceita que façam isso sem avisar ao passageiro que a bendita mala está à sua espera.
Por falar em cenas de segurança ridículas: na vinda para Copenhagem Mamãe protagonizou a famosa cena do Apertem os Cintos...! Enquanto todos os terroristas passavam batidos, uma moça implicou com a mala dela, abriu tudo, fuçou potinho por potinho e creme pr creme, abriu pasta de dente e o escambau, tornou a levar tudo pro Raio-X, fuçou mais, radiografou mais e quase nos fez perder o avião. E por que? Porque no meio da tralha havia um abridor de garrafa. Tão inofensivo que, uma vez identificado, continuou na companhia da Mamãe.
A gente pode com isso?!
Nenhum comentário:
Postar um comentário