30.8.10
A hora da videochamada?
Um dos chamarizes de venda do novo iPhone 4, que ainda não chegou oficialmente por essas bandas, é a camera frontal, que permite a realização de videochamadas – algo que a maioria dos smartphones já faz, em tese, há alguns anos. Digo “em tese” porque, na vida real, fora de eventos de demonstração de operadoras e/ou fabricantes, é muito raro ver alguém fazendo videochamada.
O problema é antigo, e é mais cultural do que tecnológico. A idéia do videofone existe desde princípios do século passado; nos anos 70, a ATT chegou a desenvolver um telefone (fixo) que fazia videochamadas até razoáveis. Conheci um dos seus modelos avançados em meados dos anos 80, no Bell Labs. Como todos os representantes da espécie, fazia mais sucesso no laboratório do que entre os consumidores: os próprios cientistas que trabalhavam no seu desenvolvimento tinham dificuldades em fazer com que suas famílias o usassem. Os motivos eram óbvios. Uma chamada telefônica não atrapalha a privacidade de ninguém, mas o mesmo não se pode dizer de uma videochamada, que mostra cabelo despenteado, barba pelo meio, roupa de baixo, pijama ou roupa nenhuma...
As teleconferências corporativas e as chamadas de longa distância do Skype mudaram um pouco esse panorama – mas note-se que elas são realizadas em circunstâncias muito específicas. Numa teleconferência ninguém corre o risco de ser encontrado no meio do banho. As chamadas do Skype, por sua vez, são feitas do computador, o que significa um grau de disponibilidade que quem faz ou recebe uma chamada comum de telefone nem sempre tem.
Com os smartphones, as videochamadas passaram para um outro universo, o da mobilidade – que, se por um lado é mais complexo para quem quer ver e ser visto enquanto fala, por outro põe a tecnologia ao alcance de muito mais gente. E parece que o gosto das gentes está mudando. Afinal, não faria sentido os smartphones trazerem câmeras frontais há tanto tempo se a indústria não estivesse sentindo um mínimo de demanda por parte do público. Mas onde está essa demanda?
Fiz a pergunta pelo Twitter, e recebi mais de 200 respostas. A imensa maioria dos que me responderam não faz videochamadas, nunca fez e pareceu ter pouco interesse pelo assunto. Algumas pessoas não usam por dificuldades tecnológicas – a operadora não as disponibiliza, ou não há 3G, ou há algum problema com os aparelhos – mas têm interesse. Entre elas, um caso típico é o do @leonesandro:
“Já usei, com meu filho! Mas meu aparelho deu defeito e estou sem usar há uns seis meses. Funcionava, meio mais ou menos. O sinal tinha que estar forte para funcionar legal. Acho que é uma tecnologia que ainda vai avançar...”
Finalmente, as poucas pessoas que de fato usam o serviço gostam muito. A usuária mais empolgada que encontrei foi a @MarcellinhaRJ:
“Eu uso! E AMO! Com qualquer pessoa que tenha um aparelho 3G. Com marido, filhos, amigos de outros estados, principalmente pra matar a saudade e pra mostrar como meus filhos cresceram!”
E é bem possível que, afinal, o iPhone 4 desencadeie uma nova onda. Vejam o que diz o @rodrigo_x:
“Comecei agora com o iPhone 4. Como são poucos amigos que usam o aparelho (3), só falo com eles. É indiferente a operadora no caso. Tão logo mais amigos tenham o iPhone 4, mais videochamadas farei :)”
(O Globo, Revista Digital, 30.08.2010)
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