10.8.10

Enquanto isso, aí no Rio...

Quando assisti a “Bombaim” pela primeira vez, me encolhi na poltrona assim que o filme começou; as cenas iniciais não faziam prever nada de bom. Um rapaz desenxabido chegava de ônibus a uma aldeia desenxabida, via uma mocinha desenxabida, se apaixonava, e começava a andar atrás dela, naturalmente da forma mais desenxabida. Ele era hindu, ela muçulmana, e este tipo de amor proibido tem sido a base do roteiro de pelo menos metade da produção de filmes indianos ao longo dos tempos.

Para piorar, além de desenxabido, o cenário era pouco inspirador, assim como o trabalho dos atores.

Até aí, nada demais. Num país onde são feitos quase 900 filmes por ano, é normal que muitas centenas sejam pelo menos esquecíveis, para não dizer francamente ruins. O grande milagre é que a Índia consiga apresentar tantos e tão bons filmes ano após ano, e que o seu cinema continue, apesar da influência da televisão e dos filmes ocidentais, com uma pegada tão original.

“Bombaim”, lançado em 1995 com extraordinário sucesso dentro e fora do país, é emblemático. Passadas aquelas primeiras cenas quase constrangedoras, o filme cresce de tal maneira que chega aos créditos finais com nota dez, cinco estrelas e Bonequinho aplaudindo de pé, comovido até não poder mais, vibrando com a música do imbatível A. R. Rahman, que arrebatou o Oscar em 2009 pela trilha de “Quem quer ser um milionário”.

Não vou contar como continua a história quando sai do banalíssimo ponto de partida e cai nos violentos ataques religiosos de 1992; basta dizer que o filme, do nosso ponto de vista, é esquizofrênico e inclassifícavel, dividido entre comédia e tragédia, ficção e realidade. “Bombaim”, que será apresentado no dia 12 na Sala 1 da Caixa Cultural, é uma das atrações da mostra Cinema Indiano Contemporâneo, que começa hoje e prossegue até o dia 22 com uma seleção particularmente bem feita do que a Índia tem apresentado de bom na tela grande.

Mas atenção: cinema indiano e Bollywood não são necessariamente sinônimos. O termo Bollywood só se aplica aos filmes produzidos em Bombaim, e ainda assim dentro de uma certa estética comercial. O próprio “Bombaim”, por exemplo, é um filme tamil, sem números cantados e sem dança. “Sr. e sra. Iyer”, de Aparna Sen, é outro típico filme indiano que foge do que se imagina que seja um filme indiano típico. Nele, os conflitos religiosos são mais uma vez peças fundamentais para a ação, mas o foco está sobretudo nas emoções do herói muçulmano solteiro e da mocinha hindu casada (sim, sim, já vimos isso antes...) que são praticamente jogados nos braços um do outro.

Bollywood comparece com alguns merecidos sucessos de bilheteria, entre eles “Lagaan”, sensacional épico em que uma partida de críquete decide os destinos de uma aldeia, e o divertido “Siga em frente Munna Bhai”, em que o espírito de Gandhi transforma um bandido de Bombaim num ótimo sujeito.

(A programação está AQUI)

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