16.2.02



Eu acredito em gnomos!
(Ou quase isso...)

Vai ao ar nos próximos dias 14 e 15 de março, no campus da University of Southern California, em Los Angeles, a Quinta Conferência Anual de Jornalismo Online, patrocinada pelos departamentos de jornalismo da USC e da UC Berkeley. Esta é a galera que mais consistentemente vem estudando a modalidade, e a conferência deve ser simplesmente fantástica. Quando recebi a circular/convite do Larry Pryor, editor da Online Journalism Review, que comanda os trabalhos, fiquei no maior alvoroço: Nossa, que bárbaro, preciso contar logo pro pessoal!

A ficha ter demorado tanto a cair deve ser, imagino, um efeito retardado da anestesia: De que é que adianta dar esta notícia no Brasil, hoje?!

Tá feia a coisa online, e coleguinha com grana suficiente para bancar a viagem do próprio bolso... bom, aí é trip total. Bem sei que jornalista com dinheiro é um ser mitológico, que freqüenta as mesmas esferas das mulas sem cabeça e dos lobisomens. Nunca vi um, mas continuo teimosamente acreditando na sua existência, nem que seja para manter o otimismo: não tem gente que acredita em fadas? Então?!

Mas onde é que eu estava mesmo? Ah, sim: fazendo de conta de que esta notícia tem um alto grau de interesse.

O tema da conferência é, este ano, The Third Wave -- Doing It Right. Entre outros, estão escalados painéis sobre o futuro do jornalismo e sobre a credibilidade do jornalismo na rede, além de discussões sobre conteúdo e estrutura econômica.

Na minha experiência pessoal, porém, o melhor dessas conferências não é o que rola na programação oficial, mas sim a discussão randômica com os colegas. O que está dando certo, o que não está, o que parece interessar aos leitores... há muito o que discutir nessa área e, claro está, ainda que se trancassem todos os participantes numa casa durante dois meses (ih, olhaí, Globo, que idéia legal acabei de ter...!) não se chegaria a conclusão alguma. O jornalismo online ainda está em formação; nem nós, que o fazemos, nem o público, que nos lê, sabemos muito bem para onde vamos.

Algumas premissas, porém, me parecem bastante óbvias, sendo a primeira delas a de que não basta apenas transferir para a rede o que se publica no papel. Ainda assim, é exatamente isso o que a maioria dos jornais vêm fazendo, há anos: usando a internet como um grande arquivo. Morto.

O jornalismo online deveria mais leve, mais ágil. Ele permite (ou deveria permitir) maior grau de experimentalismo, assim como uma maior interferência de quem o faz no produto final; não muito diferente de... sim, vocês adivinharam... um blog! Entre outras coisas porque, a meu ver, o público começa a não acreditar mais em corporações ou em empresas de comunicação; mas acredita (ou não) em pessoas, em indivíduos. Quanto mais presentes e responsáveis forem estes indivíduos pelas informações que transmitem, maior credibilidade terá o veículo, como um todo.

É lógico que as grandes marcas continuam tendo o seu peso, e ainda o conservarão por muito tempo: as edições online do New York Times ou do Wall Street Journal, por exemplo, são herdeiras do que esses grandes jornais construíram em papel. Mas não sei, sinceramente, se este é, ou será, o caminho da informação na internet.

O WSJ -- um dos poucos jornais cuja versão web consegue se manter através de assinaturas -- acaba de reformular o seu site. Gastou U$ 28 milhões (não me perguntem em quê!) para proporcionar aos 625 mil assinantes (U$ 29 anuais per capita: façam as contas) uma leitura mais dinâmica, menos ancorada na edição em papel, lida por apenas um terço dos leitores conectados. Tem sido interessante constatar como o WSJ vem dando destaque a seus principais repórteres e colunistas.

Faz sentido: num mundo cada vez mais tumultuado, que sofre mais com o excesso do que com a falta de informações, é sempre um alívio encontrar um interlocutor conhecido.

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