27.7.08

O assalto

Bom, foi assim: saímos do Rio Sul, onde havíamos terminado de fazer compras e de jantar no Dois em Cena, e pegamos taxis separados: Mamãe, Laura e eu num, rumo às nossas respectivas casas, Bia, Júlia, Manoela, Mayra, Hermano, Gui e o amigo namorado da Manoela cujo nome não guardei (desculpe!) Renan em outros não sei exatamente para onde.

O nosso taxi fez aquela volta, por baixo, para ir para Botafogo em vez de pegar o Aterro; há uma espécie de túnel, lá, que fica por baixo do viaduto. Nisso fomos fechados -- o táxi e mais os carros que vinham atrás -- por dois carros que trafegavam feito loucos na contramão.

Do que parou à nossa frente, um Fiat (era Fiat?) escuro, desceram dois caras, o do lado direito com um fuzil (tanto que a minha primeira impressão foi que era polícia atrás de bandido) e os outros armados com pistolas 45mm.

Aos berros.

Aí caiu a ficha que não era polícia.

Peguei o celular na bolsa e já ia fotografar os elementos quando, graças a Deus!, me lembrei da luz de auxílio do foco e desisti da idéia. Joguei o bichinho no chão do taxi, e fiz o mesmo com o outro.

Enquanto isso, um bandido apontava a arma para cabeça da Laura mandando a gente entregar as bolsas.

Laura pedia para ficar com os documentos.

O motorista do táxi, muito nervoso, dizia para termos calma, não fazermos movimentos bruscos e, possivelmente, não respirarmos (brincadeira: isso ele não disse, mas foi por pouco).

Mamãe, sempre a Sábia Coruja, estava quietinha quietinha, disfarçando a bolsa preta junto à roupa idem, como se nada estivesse acontecendo.

Eu ainda tentava, frenética mas discretamente, pescar a carteira com os documentos de dentro da bolsa.

O sujeito apontou a arma para mim e aumentou o volume:

-- Passa essa bolsa, porra, passa essa bolsa!

Uma 45 é um argumento tão eloqüente que ele não precisava nem ter berrado tanto. Entreguei a bolsa.

Contrariada, p da vida, mas entreguei.

O pessoal dos carros teve menos sorte. Os bandidos mandaram que descessem dos veículos, roubaram bolsas, carteiras e celulares de todos, e fugiram nos carros cantando pneu.

Os carros com que nos fecharam ficaram abandonados na rua.

O táxi nos levou até a 10 DP, onde os policiais foram simpáticos e atenciosos.

* * *

Fiquei muitíssimo impressionada com uma família de Minas Gerais, pai, mãe e filha pequena, que tiveram o carro roubado.

Os pais mantiveram o sangue frio e seguraram a onda tão bem que a menina, apesar da hora, do susto e da demora na delegacia, ficou bem tranqüila, e contava para todo mundo o que tinha acontecido como se fosse apenas uma aventura esquisita.

* * *

Cerca de uma hora depois, já com os registros para começar a romaria atrás de documentos novos na segunda, fomos a pé para a casa da Laura, que fica logo ali na esquina.

A Laura, que acredita no poder reparador da comida, preparou um chazinho e serviu um bolo. O Hermano, muito amigo nosso, chegou quase junto.

Passamos um tempão cancelando cartões e talões de cheque. A Júlia, em algum outro lugar da cidade, de onde se comunicava conosco com regularidade, fez um belo serviço e nos ajudou muito.

* * *

A minha contabilidade de prejuízos ficou assim:

  • Óculos escuros NOVINHOS, de grau, caros pra caramba;

  • Carteirinha deliciosa, toda colorida, para dinheiro e documentos, que comprei em Berlim; quase sem dinheiro, mas cheia de documentos, cartões e, principalmente, duas lindas fotos, uma do Paulinho com a Emília, outra da Bia com a Keaton (feita numa máquina de rua, sem cópia);

  • Moleskine CHEIO de anotações;

  • Bolsinha com tudo o que eu preciso -- Polaramine, lenços de papel, pó compacto da Benefit que fazia sua estréia na minha vida social, batom, caneta, talão de cheques com apenas duas ou três folhas usadas, caneta pequenina e gostosinha de usar;

  • Linda bolsa da Datelli que eu muito amava;

  • Chaves de casa.

    * * *

    O prejuízo da Laura foi quase igual, com alguns cartões a menos, o que significa que ela ainda é considerada gente pelo sistema; já eu só voltarei a ter essa regalia quando o Bradesco substituir os meus. Hermano me emprestou 50 pratas, Mamãe me deu mais 20 pro táxi e depois a gente vê.

    * * *

    A noite acabou com alguns toques perfeitos, porque quem tem uma irmã como a Laura realmente tem tudo na vida.

    Ela me adiantou o presente de aniversário, que era, não sei como ela adivinhou... UMA BOLSA!!!

    Nunca disse "Era isso mesmo que eu estava precisando!" com tanta sinceridade.

    Acham que é tudo? Neca. Dois minutos depois ela vem lá de dentro com um estojo de óculos na mão: escuros, lindos, perfeitos para mim. Só preciso mandar fazer as lentes pro meu grau.

    Ela comprou durante a tournée, achando que em algum momento poderiam ter utilidade para alguém.

    E, como se não bastasse, sabia exatamente onde estavam guardadas as cópias que tem das chaves daqui de casa...

    * * *

    Agora que passou, e que já estamos todas a salvo, está tudo bem. Não aconteceu nada de realmente grave, ninguém se feriu. É claro que quando um filhadaputa aponta uma arma para a tua cabeça, você quer mais é que ele morra, mas até disso fomos poupadas: ver alguém levar um tiro na sua frente, ainda que seja o cara que está te assaltando, não deve ser agradável.

    Enfim.

    Preciso raciocinar com mais calma sobre o que aconteceu.

    O que eu sei é que, na hora do assalto, eu só pensava: "Acho que dá uma crônica; mas tomara que não atirem."
  • Nenhum comentário: