8.10.07
Diário de bordo
Hoje foi um dia de trabalho; sabendo disso, a Capi nem saiu do quarto. Ficou recarregando as baterias.
Estamos a uns 15 euros de táxi do centro, o que restringe a mobilidade quando há uma palestra boa, outra nem tanto, outra legal logo depois.
(Ontem, para me localizar, pedi ao concierge que me mostrasse onde, exatamente, estávamos no mapa.
-- Nós não estamos no mapa, -- foi a desalentadora resposta.)
Fui ficando por aqui, embora tivesse planos de fugir mais cedo para a cidade. Havia uma entrevista da Alcatel no Ritz às 17hs, e pensei que conseguiria chegar antes, etc. etc. etc.
Um otimista, conforme vocês sabem, é apenas um pessimista mal informado.
-- Ritz?! -- assanhou-se a Capi. -- Você disse Ritz?!
De lá, fomos todos jantar no restaurante que fica no alto do Reichstag. A arquitetura é interessante: o projeto manteve a parte que não veio abaixo durante a guerra, e criou uma estrutura de vidro muito atraente por cima.
Um princípio parecido foi adotado na Potsdamer Platz, onde o que sobrou de um palacete foi incorporado à nova e radical paisagem, numa espécie de sarcófago transparente.
Embora os traços da guerra estejam por toda a parte, e para mim seja impossível esquecer, Berlim é uma cidade onde não me sinto mal.
Gosto da sua dinâmica e do seu jeito cosmopolita de ser.
Não posso dizer o mesmo do resto da Alemanha. Ainda que tenha amigos muito queridos no país, e que tenha vivido ótimos momentos em várias cidades, me basta pôr um pé fora de Berlim para que me sinta andando em campo psicologicamente minado.
Durante a Copa, quando o nosso trem passou pela estação de Dachau, tive uma crise de choro, e passei vários dias me sentindo doente, doente de verdade.
Essas coisas acontecem.
Ser descendente de uma família dizimada e estar aqui é um confronto permanente e inevitável com a História, em geral, e com a minha história, em particular. É mexer num vespeiro emocional sem tamanho.
De qualquer forma, andando de bicicleta por Berlim, consigo manter esse vespeiro mais ou menos quieto, consigo ser mais analítica do que emotiva e consigo, até, ser feliz, de uma forma esquisita que não sei definir bem, talvez triunfante sobre as circunstâncias.
E agora chega de papo-cabeça que madrugada vai alta e amanhã um dia cheio me aguarda.
Bis Morgen!
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