31.10.07
30.10.07
Count your blessings
Morrer na hora nem é o pior que imagino. Eu não teria tido consciência do fato; a verdade é que quando comecei a entender o que havia acontecido já estava no chão, pessoas acudiam, etc. Há uma longa galeria de horrores. Nem preciso ir muito longe. Eu podia ter quebrado um braço também.
Família a gente não escolhe; tirei a sorte grande nessa loteria. Mas meus amigos são o máximo. O que faz quem passa por isso e tem que se virar sozinho?! Não consigo imaginar, realmente não.
Vocês não imaginam a diferença que faz entrar aqui e encontrar tantos comentários bacanas desejando saúde, contando coisas, mandando links! Tantos amigos que eu não conheço em pessoa e de quem gosto tanto, de quem tanto recebo.
Passo o dia imóvel, mas vendo as mudanças do céu e da luz na Lagoa; uma benção que nunca me esqueço de agradecer, mas que nas atuais circunstâncias é inestimável.
Das queridas telefonistas que ligam para ter notícias aos colegas que seguram a barra, passando pela administração e pela chefia: não consigo imaginar lugar melhor para trabalhar do que O Globo. Ficar no estaleiro é um pavor, mas ficar no estaleiro sem a segurança que o jornal me dá seria um pesadelo.
Como se cura alguém que não tem bicho por perto?! Taí outro mistério incompreensível para mim. Desde que voltei para casa, os gatos não desgrudam. Ficam deitados ao meu lado ou em cima de mim, atentos ao menor movimento. Brincam. Fazem bobagens. E, incrível, tomam o maior cuidado com a minha perna.
Pensei nisso mil vezes enquanto estava no Copa d'Or; penso nisso sempre que uma das enfermeiras que me assiste faz um curativo, sempre que a fisioterapeuta vem me ver. Imagino o desespero de passar por uma dor dessas numa fila de hospital público, de atravessar um pós-operatório tão dolorido e exasperante sem um mínimo de dignidade e conforto.
Grrrrrrr...
Ao contrário da criatura alquebrada que vos tecla, os anunciozinhos são duros na queda. Continuam falando de assuntos chatos.
Tecnologicamente, isso é lindo, um prodígio, mesmo. Ao contrário da Jaqueline, que se sentiu bisbilhotada quando os adsenses do Gmail começaram a fazer referência aos tijolos ecológicos que ela descreveu para a Luciana, acho sensacional observar a sua eficiência.
O que está me deixando passada em relação ao blog é, justamente, o fato de que eles estão acertando em cheio.
Tecnologicamente, isso é lindo, um prodígio, mesmo. Ao contrário da Jaqueline, que se sentiu bisbilhotada quando os adsenses do Gmail começaram a fazer referência aos tijolos ecológicos que ela descreveu para a Luciana, acho sensacional observar a sua eficiência.
O que está me deixando passada em relação ao blog é, justamente, o fato de que eles estão acertando em cheio.
Efeito colateral
Sabem uma coisa que está me dando nos nervos (além das outras, claro)?
É que, por estar ligeiramente monotemática, os anúncios aí de cima têm sido, TODOS, de médicos e de temas relativos à ortopedia em geral e a joelhos em particular.
Este é um post para ver se consigo reverter a situação:
Amor, chocolate, frutas, flores, praia, bicicleta, viagens, livros, museus, revistas, férias, receitas, bichos de estimação, moda, perfume, enfeites, música, filmes, CSI, Friends, Desperate Housewives... aceitam-se sugestões!
E, pura apelação:
Sexo! Sexo! Sexo!
Agora é só esperar e ver o que acontece.
É que, por estar ligeiramente monotemática, os anúncios aí de cima têm sido, TODOS, de médicos e de temas relativos à ortopedia em geral e a joelhos em particular.
Este é um post para ver se consigo reverter a situação:
Amor, chocolate, frutas, flores, praia, bicicleta, viagens, livros, museus, revistas, férias, receitas, bichos de estimação, moda, perfume, enfeites, música, filmes, CSI, Friends, Desperate Housewives... aceitam-se sugestões!
E, pura apelação:
Sexo! Sexo! Sexo!
Agora é só esperar e ver o que acontece.
29.10.07
Aula prática
Paulinho me mandou uma demonstração de como entrar na banheira de perna imobilizada sem ter que demolir a casa.
Segui a receita.
O blindex foi retirado, a beirada da banheira provou ser mais prática do que imaginávamos (é uma borda de mármore de mais de um palmo) e, viva!, tudo funcionou às mil maravilhas.
De modo que posso orgulhosamente revelar que, uma semana depois de atropelada, tomei, enfim, meu primeiro banho digno do nome.
Usei todos os shampoos e cremes a que tinha direito, sabonete delicioso, uma hora debaixo d'água.
A alma ficou leve que só.
Detalhe muito importante sobre o filme: o cinegrafista foi o Joe!
28.10.07
Viagem ao redor da minha sala
Ao longo do dia, fiz muitas fotinhas de telefone: dos meus pés pro alto, dos gatos brincando e dormindo, dos livros no chão, da vista lá fora, do jornal semi-lido. Tudo do ponto de vista de um bípede espichado no sofá, até porque, por enquanto, não tenho outro.
Todas essas fotinhas foram enviadas, como faço habitualmente -- uma pequena história visual do meu cotidiano, agora restrito ao apartamento e, mais exatamente, à sala, onde transcorreu o meu primeiro dia pós-hospital e onde, como percebo, transcorrerá a maioria dos dias de imobilidade que me aguardam.
O diabo é que a Tim está menos confiável ainda do que o meu joelho, e nenhuma delas chegou.
Mais tarde vou ter que conectar o celular ao notebook para baixá-las, como fiz ontem -- este é um notebook antigo, que só funciona com bluetooth USB, e estou cansada demais para ir ao escritório buscá-lo.
Essa é a expressão que melhor define o meu estado de espírito. Percorrer a ridícula distância até a cozinha virou uma aventura; ir ao meu quarto lá no fim do corredor é uma excursão que só vale à pena empreender no fim do dia, pra dormir; ir ao escritório, meio em obras, nem pensar.
O próprio banheiro de visitas, que felizmente é um banheiro mesmo e não um lavabo, mas que é ainda mais perto da sala do que a cozinha, se é que isso é possível, virou ponto geográfico a ser cuidadosamente considerado antes que me anime a empreender uma incursão até lá.
Tudo me parece horrivelmente distante, cada passo é um esforço sobre-humano, cada destino uma viagem.
Agora, que já não estou no hospital, e tenho que "pensar" o corpo, descubro hematomas e pedaços doloridos onde antes tudo parecia OK. Meu braço esquerdo, por exemplo, que não tem um hematoma, dói. Minha perna direita, com duas manchas sinistras, está boa.
Vá entender.
O bom de Mãe é que é, pronto. E a minha, além de ser, é mais.
Na falta do que fazer imagino mudanças que já imaginei mil vezes para a sala, mas que agora começam a tomar ares de possibilidade.
A maior mudança, no entanto, começa amanhã, urgentemente, no banheiro de visitas. Aqui em casa todos os chuveiros ficam dentro da banheira, ou seja, fora do alcance de um bípede pela metade. O banho de cuia dado pelas enfermeiras limpa direitinho mas não resolve a questão.
Resultado: na terça, no mais tardar, tem de entrar aqui uma equipe de obras pra pôr pelo menos uma banheira abaixo.
Aliás, peço por favor a quem mora no Rio, tem experiência recente com obras e boa equipe a recomendar que me deixe o telefone do pessoal aí nos comentários.
Em minha defesa só posso dizer que, entre outras coisas estranhas nesses dias estranhos, descobri que meu cérebro não fica na cabeça, como a anatomia sugere e eu imaginava, mas sim no joelho.
Update: Mais uma vez, perdão pelo baixo astral. Vocês não merecem isso, e eu, apesar dos atuais pesares, não tenho qualquer direito de me queixar da vida, pelo contrário.
Hoje à tarde, cobrei da Mamãe:
--Vem cá, por que é que, tendo herdado o lado, uh, cheinho do Papai, e mais o seu (dele) espírito atlético, eu tive que herdar justo a paciência do Nonno?!
Meu Pai, cujo único esporte era xadrez e que, se não fosse a vigilância da Mamãe sobre o que se comia em casa, passava facilmente do peso, era, por outro lado, a pessoa mais paciente que já conheci. Já o Nonno, meu avô materno, atleta por excelência a vida inteira, como Mamãe, e dono de uma força de vontade inquebrantável, era, digamos, um tanto explosivo.
-- Tá, tá,-- emendei na hora. -- Eu reconheço, o Nonno era bem mais impaciente do que eu.
Mamãe nem se deu ao trabalho de levantar os olhos do jornal:
-- Só porque era homem, e se as mulheres fossem impacientes como os homens, a humanidade já tinha se extinguido há milhões de anos. De resto...
Oops.
Todas essas fotinhas foram enviadas, como faço habitualmente -- uma pequena história visual do meu cotidiano, agora restrito ao apartamento e, mais exatamente, à sala, onde transcorreu o meu primeiro dia pós-hospital e onde, como percebo, transcorrerá a maioria dos dias de imobilidade que me aguardam.
O diabo é que a Tim está menos confiável ainda do que o meu joelho, e nenhuma delas chegou.
Mais tarde vou ter que conectar o celular ao notebook para baixá-las, como fiz ontem -- este é um notebook antigo, que só funciona com bluetooth USB, e estou cansada demais para ir ao escritório buscá-lo.
* * *
Cansada demais.Essa é a expressão que melhor define o meu estado de espírito. Percorrer a ridícula distância até a cozinha virou uma aventura; ir ao meu quarto lá no fim do corredor é uma excursão que só vale à pena empreender no fim do dia, pra dormir; ir ao escritório, meio em obras, nem pensar.
O próprio banheiro de visitas, que felizmente é um banheiro mesmo e não um lavabo, mas que é ainda mais perto da sala do que a cozinha, se é que isso é possível, virou ponto geográfico a ser cuidadosamente considerado antes que me anime a empreender uma incursão até lá.
Tudo me parece horrivelmente distante, cada passo é um esforço sobre-humano, cada destino uma viagem.
Agora, que já não estou no hospital, e tenho que "pensar" o corpo, descubro hematomas e pedaços doloridos onde antes tudo parecia OK. Meu braço esquerdo, por exemplo, que não tem um hematoma, dói. Minha perna direita, com duas manchas sinistras, está boa.
Vá entender.
* * *
Mamãe passou o dia comigo, benção que não pode ser superestimada. Conversamos muito, almoçamos, lanchamos, ficamos quietas.O bom de Mãe é que é, pronto. E a minha, além de ser, é mais.
* * *
Estou muito desconcentrada para conseguir ler direito ou prestar atenção a qualquer coisa por mais de uns poucos minutos. Nisso os gatos são, todos, pequenas (e, vá lá, em alguns casos não tão pequenas) felicidades quadrúpedes, especialmente, dadas as circunstâncias, o Irineu, que parece uma máquina de inventar bobagem e que, jovem gato que é, não pára um segundo.Na falta do que fazer imagino mudanças que já imaginei mil vezes para a sala, mas que agora começam a tomar ares de possibilidade.
A maior mudança, no entanto, começa amanhã, urgentemente, no banheiro de visitas. Aqui em casa todos os chuveiros ficam dentro da banheira, ou seja, fora do alcance de um bípede pela metade. O banho de cuia dado pelas enfermeiras limpa direitinho mas não resolve a questão.
Resultado: na terça, no mais tardar, tem de entrar aqui uma equipe de obras pra pôr pelo menos uma banheira abaixo.
Aliás, peço por favor a quem mora no Rio, tem experiência recente com obras e boa equipe a recomendar que me deixe o telefone do pessoal aí nos comentários.
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Desculpem o post deprê e mal-humorado.Em minha defesa só posso dizer que, entre outras coisas estranhas nesses dias estranhos, descobri que meu cérebro não fica na cabeça, como a anatomia sugere e eu imaginava, mas sim no joelho.
Update: Mais uma vez, perdão pelo baixo astral. Vocês não merecem isso, e eu, apesar dos atuais pesares, não tenho qualquer direito de me queixar da vida, pelo contrário.
Hoje à tarde, cobrei da Mamãe:
--Vem cá, por que é que, tendo herdado o lado, uh, cheinho do Papai, e mais o seu (dele) espírito atlético, eu tive que herdar justo a paciência do Nonno?!
Meu Pai, cujo único esporte era xadrez e que, se não fosse a vigilância da Mamãe sobre o que se comia em casa, passava facilmente do peso, era, por outro lado, a pessoa mais paciente que já conheci. Já o Nonno, meu avô materno, atleta por excelência a vida inteira, como Mamãe, e dono de uma força de vontade inquebrantável, era, digamos, um tanto explosivo.
-- Tá, tá,-- emendei na hora. -- Eu reconheço, o Nonno era bem mais impaciente do que eu.
Mamãe nem se deu ao trabalho de levantar os olhos do jornal:
-- Só porque era homem, e se as mulheres fossem impacientes como os homens, a humanidade já tinha se extinguido há milhões de anos. De resto...
Oops.
27.10.07
Volta ao lar
O dia amanheceu muito bonito e com uma vantagem extra: me disseram que eu teria alta! Vários médicos vieram me ver, me dar instruções e listas de remédios.
Dito e feito, aí pelo meio-dia, chegou a ambulância. Esses dois são FERAS: é incrível como sabem manipular pessoas doloridas sem que elas (as ditas pessoas doloridas) sintam dor.
Essa é aquela tomada de cena que a gente sempre vê em novela, mas acha que nunca vai filmar. Ou, no meu caso, fotograr.
Meno male -- pior é quando nem isso a gente tem ânimo de fazer.
Pelas caras da Mamãe e da Heliana, nota-se que eu não estava tão ruim quanto achava que estava.
Estranho, isso. Preciso investigar.
Há sempre uma burocracia no lance a ser esclarecida.
Foi.
E agora há vários gatos que ainda vão levar um tempo até aceitar o cheiro de veterinário com que seu bípede voltou pra casa, e suas restrições de movimento.
Mas isso é outra história que, se Deus me der força e saúde, eu depois conto para vocês.
O que eu não posso deixar para amanhã é o meu melhor agradecimento e toda a minha gratidão à Heliana, amiga querida que agiu como como irmã safa, disposta e sempre pronta a me defender. Desde que cheguei ao hospital, ela literalmente largou sua vida pra lá (diz ela que não estava dando onda mesmo, mas a gente sabe que não é bem assim) e permaneceu ao meu lado.
Tomou decisões, assinou autorizações de internação e cirurgia, contrabandeou chocolate, convocou atendentes, enfermeiros e médicos quando necessário, organizou o plantão de enfermeiras que vão se revezar dia e noite ao meu lado, pelo menos nessa primeira semana, e deixou a minha vida arrumadinha.
Não bastasse a sorte grande de ter uma amigona assim, ainda contei com o apoio moral (e muitas vezes físico) da Mamãe, e com a companhia sempre pra cima da Jujuba, minha sobrinha do coração, que cuidou como um anjinho da Pobre, Velha, Doente e agora Manquitolante Tia Doente.
Enfim, queridos, muito obrigada a todos que se preocuparam, deixaram palavras de carinho, votos de reestabelecimento. Eu acompanhei o dia-a-dia do blog porque o Lucas, outro amigo que não tem tamanho, fez a gentileza de imprimir todas as páginas de comentários e trazê-las para mim para o hospital.
Não vou dizer que quebrar o joelho assim até dá gosto, porque estaria exagerando um tantinho; mas que os amigos adoçam a vida, lá isso é absolutamente verdade.
26.10.07
25.10.07
Notícias
Pessoas, escrevo essas mal tecladas do iPhone, no hospital, onde, aos poucos, começo a me sentir melhor: os médicos reforçaram a medicação contra dor.
Essa notinha rápida é só para agradecer o carinho de todos especialmente aos meus anjos da guarda Heliana, Tom e Julia.
Essa notinha rápida é só para agradecer o carinho de todos especialmente aos meus anjos da guarda Heliana, Tom e Julia.
24.10.07
Passou a Anestesia - Nada de Visitas
No decorrer da noite, foi passando o efeito da anestesia e o desconforto (eufemismo para dor) foi aumentando. A Cora amanheceu sentindo todas as conseqüências do atropelamento e da cirurgia. Já está medicada, mas ainda com algum desconforto.
Ela pede, portanto, para avisar que não está em condições de receber visitas, que também foram proibidas pelo médico.
E agradece o carinho de todos.
(postado por Tom)
Ela pede, portanto, para avisar que não está em condições de receber visitas, que também foram proibidas pelo médico.
E agradece o carinho de todos.
(postado por Tom)
23.10.07
Boletim Médico e Pós-Operatório
Atravessando entre os carros engarrafados, a Cora foi atropelada ontem, por um moto-boy, que vinha entre os carros e ela não viu. Ele parou e prestou atendimento. Foi chamado um amigo, que a trouxe de carro para o Copa d'Or.
Ela não tinha nenhum hematoma ou escoriação. Nada que indicasse ter sido vítima de um atropelamento. Mas a perna esquerda -- doloridíssima -- estava quebrada.
A tomografia revelou um afundamento do platô posterior da tíbia (veja este desenho anatômico), onde se apóia o fêmur.
Ela foi operada na tarde de hoje e já está de volta ao quarto. A operação transcorreu bem, e a tíbia foi restaurada. Pela frente, três a quatro dias de internação, seis a oito semanas sem poder apoiar-se na perna esquerda e muita fisioterapia.
Mas conta com muitos outros apoios.
As flores são do Paulinho, a foto da Heliana.
(postado por Tom)
Atropelamento
A atualização do blog ficará um tanto prejudicada pelo fato de que, no momento em que saía do advogado, fui atropelada por uma moto, em frente à Candelária.
Estou internada no Copa d'Or. Sem traumatismos, escoriações, ou nada mais que pareça ter sido atropelada. Mas o joelho esquerdo está fraturado e serei operada nesta terça-feira (dia 23), pela manhã.
As visitas estão proibidas, por ordens médicas.
Um recado especial ao Paulinho e para a Bia: não se preocupem, sua Pobre Velha Mãe Doente está em (quase) plena forma.
Aguardem Boletins Médicos regulares.
(postado por Tom, ao voltar do hospital com a Heliana, que esteve presente desde o primeiro momento)
Estou internada no Copa d'Or. Sem traumatismos, escoriações, ou nada mais que pareça ter sido atropelada. Mas o joelho esquerdo está fraturado e serei operada nesta terça-feira (dia 23), pela manhã.
As visitas estão proibidas, por ordens médicas.
Um recado especial ao Paulinho e para a Bia: não se preocupem, sua Pobre Velha Mãe Doente está em (quase) plena forma.
Aguardem Boletins Médicos regulares.
(postado por Tom, ao voltar do hospital com a Heliana, que esteve presente desde o primeiro momento)
22.10.07
Mamãe, de novo entre as 10 mais!
Essa placa é difícil de fotografar; mas significa que, para variar, Mamãe mais uma vez está entre as dez melhores nadadoras do mundo na sua faixa etária -- e em diversas categorias.
Dessa vez, ela, que não é de se gabar, está paricularmente contente, porque está com quase 84, ou seja, ganhou de uma quantidade de jovens impetuosas de 80.
Entre os nadadores masters, a classificação da FINA (que é Federação Internacional de Natação) é considerada mais importante do que os mundiais. A razão é simples: aos mundiais viajam apenas os nadadores e nadadoras que têm ou patrocínio, ou condições de ir do próprio bolso (caso da Mamãe, que passa dois anos fazendo economias para a ocasião -- ela é do tempo em que patrocínio em esporte tirava o valor do atleta, e continua mantendo essa postura) ou vontade de viajar.
Já para a classificação da FINA os clubes enviam os resultados de todos os seus atletas de destaque. Ou seja, são tabulados resultados de rigorosamente TODOS os nadadores e nadadoras que competem mundo afora.
Eu fico muito orgulhosa disso, nem preciso dizer; mas, para mim, sinceramente, não faz muita diferença a opinião da FINA.
Faz mais de 50 anos que sei que minha Mãe é a Melhor do Mundo.
21.10.07
20.10.07
By Appointment
Tenho mania de perfume: coleciono miniaturas, não resisto a cheiros sedutores e já descobri há anos que não devo jurar que não compro perfume novo enquanto não acabar pelo menos um dos muitos que tenho.
Isso é difícil porque, entre outras coisas, acho que para sentir o cheiro de alguém, deve-se chegar bem perto -- e, conseqüentemente, me perfumo com um cuidado quase paranóico.
Ainda que nos últimos tempos esteja conseguindo fugir da tentação com bastante disciplina, gosto de conferir as novidades e, em geral, volto de viagem com tirinhas e cartõezinhos perfumados com os cheiros que mais me atraíram.
Além de bonitinhas, essas tirinhas e cartões funcionam muito bem como marcadores de livros.
Dessa vez, entre os papeluchos, veio uma fita rosa e prateada, de cetim, cheirando a Soir de Lune, de Sisley. Pois com ela aconteceu uma coisa verdadeiramente extraordinária: os gatos, que não são fãs de perfumes, ficaram siderados.
Brigaram pela fita e esfregaram-se nela, em estado de puro encantamento.
Pensei:
-- Caramba, que idéia de gênio! Alguém usou catnip na fórmula desse perfume!
Corri para a internet, para ver se a minha suspeita procedia. Li várias descrições do perfume, mas nenhuma mencionava catnip. O que atraiu os peludos foi mesmo a mistura de essências.
Capturei a fita de volta, para conferir mais uma vez o que eu achava do perfume. Minha opinião continuava a mesma: ele é mais forte do que os que uso habitualmente, mas muito interessante.
É claro que o preço, no Brasil, é proibitivo. Faz sentido. Então os gatos iam lá gostar de qualquer colônia de três tostões?
Pois sim.
Eles ainda vão ter que esperar um pouco para ter um bípede perfumado ao seu gosto...
Maria Salgado
Uma vez comprei um daqules CDs lindinhos da Putumayo, "A Mediterranean Odissey", por causa da presença do grego George Dalaras e, por acaso, a música de que acabei gostando mais foi "Sólo por Miedo", com a espanhola Maria Salgado.Saí atrás dela e não consegui achar nada, nada, nada. A web ainda não era o que é hoje e era difícil encontrar pessoas, músicas, letras.
Também não consegui achar CDs seus nem na Fnac, em Paris, que tem tudo, nem em Barcelona, nem em Valencia -- onde os vendedores das lojas chegavam ao ponto de me perguntar se ela era portuguesa.
Por incrível que pareça, nem o Limewire, nem o Soulseek, nem o e-Mule me trouxeram qualquer rastro dela, exceto a música da antologia da Putumayo.
Há uns meses, finalmente, a encontrei na MP3.com e, logo em seguida, até no My Space, que é um excelente lugar para encontrar bons músicos.
Agora, depois de ter ouvido muitas canções suas, acho que Maria Salgado não é apenas uma grande intérprete; é também daquelas raras cantoras com um gosto esquisito, original e infalível para caminhos pouco trilhados mas, pelo menos para o meu ouvido, muito emocionantes.
Virei fã.
Aí vai a canção, com votos de um bom fim-de-semana para todos.
Sólo por Miedo
Juan Pablo Silvestre e Pedro Burruezo
Que bonito es el miedo cuando es sincero,
Qué brillante el futuro cuando es oscuro,
Qué exquisito el delito cuando lo grito,
Cuando lo grito.
Una vida más tarde comprenderemos
Que la vida perdimos
Sólo por miedo.
Qué belleza la vida cuando se olvida,
Qué profunda la herida si está dormida,
Qué segura una barca a la deriva,
A la deriva.
Una vida más tarde comprenderemos
Que la vida perdimos
Sólo por miedo.
De qué sirve la calma si no me salva,
Cuánto vale mi alma si no cabalga,
Dónde va la esperanza si no me alcanza,
Si no me alcanza.
Una vida más tarde comprenderemos
Que la vida perdimos
Sólo por miedo.
Qué bonito es el miedo cuando es sincero,
Qué salvaje el deseo cuando te veo,
Quien pudiera decirte lo que te quiero,
Cuánto te quiero.
Una vida más tarde comprenderemos
Que la vida perdimos
Sólo por miedo.
19.10.07
Últimos flagras
Essas fotos ainda estavam no celular; acompanham o último dia parisiense da Capi e do Teddybär.
Não tenho notícias dele.
Ela trancou-se no armário, não quer falar com ninguém e é impossível prever quando a veremos novamente.
No Café de Flore, enquanto se distraiam vendo as pessoas que passavam, os dois se lembraram do Café Balzac, em Berlim, e de como se conheceram.
Fizeram planos impossíveis e sonharam com o futuro, apesar de saber que dois aviões os separariam em breve.
Ao pôr-do-sol, viveram momentos românticos únicos e banais, como tantos e tantos antes deles.
Abraçaram-se antes de ir para o aeroporto, comovidos, mas sabendo que sempre terão Paris.
Não tenho notícias dele.
Ela trancou-se no armário, não quer falar com ninguém e é impossível prever quando a veremos novamente.
18.10.07
Divórcio à francesa
E lá estavam os franceses, contentíssimos que afinal tinham sua espécie de Jackie Kennedy melhorada, quando eis que a separação do casal Sarkozy foi oficialmente confirmada.
Taí um rude golpe para quem esperava sarar as feridas do rugby acompanhando o reality show da Primeira Família, tão chique e dinâmica que parecia anúncio de margarina.
Sob esse aspecto, a família real inglesa não deixa ninguém na mão; acho mesmo que é imbatível. Os personagens são bisonhos, os figurinos um espavento, mas o enredo é genial.
Notícias de uma guerra particular
É nas crises que as voadoras se revelam:nota zero para a Air France
A passagem, comprada em julho, garantia que eu iria daqui para a Europa no upper deck do 747, aquele cocuruto simpático que, em algumas companhias, abriga a executiva, e que, na Air France, é o cantinho menos doloroso da econômica. A antecedência também me garantia o assento na fila 26, em frente à porta de emergência. Não sou nenhum ministro Nelson Jobim, mas em tempos de apagão aéreo e de dólar barato, só masoquista viaja sem um mínimo de precauções. Em geral, tomo a mais simples de todas: não viajo em classe econômica. Mas meu anfitrião foi insistente:
— Você vai ver. A econômica da Air France é confortável. Esse lugar é ótimo. Acredite.
Num impulsivo triunfo da esperança sobre a experiência, acreditei; e a ida até foi, supreendentemente, bastante razoável. Fui muito bem atendida pelo rapaz que fez o check-in, no upper deck havia lanchinho à noite, e o espaço da emergência em frente à poltrona quase compensava a sua ridícula falta de largura e de inclinação.
Saí de Berlim sexta à tarde, e passei o sábado em Paris. Pelo sim pelo não, liguei para a Air France, para garantir aquele ótimo assento que, me tranqüilizaram do outro lado, era "reserva confirmada". Fui dormir sossegada e, no domingo, com a devida antecedência, apresentei-me no aeroporto, onde, depois da quilométrica fila do check-in, me receberam com uma indagação bizarra. Será que eu aceitaria viajar no dia seguinte em troca de 150 euros? A pergunta não tinha graça nem como piada. Expliquei que tinha uma reserva confirmada no assento 26C.
— Não é nada que a senhora tenha feito de errado, — esclareceu a atendente. — É que a companhia vendeu mais passsagens do que lugares disponíveis na aeronave.
— Overbooking? Desolée, mas eu confirmei a reserva pelo telefone ontem mesmo.
— Sim, a senhora fez tudo certo, mas a companhia vendeu mais passagens do que lugares disponíveis na aeronave.
Para meu horror, descobri que estava diante de um call-center ao vivo. Não havia vida inteligente atrás do balcão, só um script a ser repetido até a vítima desistir de qualquer reação.
As malas foram embarcadas para lugar nenhum e recebi um cartão de embarque sem marcação de assento. O caso só seria decidido no portão de embarque, o que significava que eu só descobriria o que me reservava o destino depois de passar pela fila da imigração e pela segurança. A cena que me esperava depois de tirar e botar o casaco, depois de tirar e guardar o notebook na mala e até de ser revistada pela polícia ("É uma escolha aleatória, madame") não era bonita de ver: dezenas de passageiros amontoados em volta de um balcão onde um rapaz tinha a ingrata missão de informá-los de que eles não haviam feito nada de errado, mas que a companhia vendera mais passagens do que lugares disponíveis na aeronave. Um senhor que vinha de Bangkok teve um ataque, uma senhora começou a gritar.
— Vocês querem se controlar? — disse, em francês, o funcionário covardemente atirado pela Air France aos leões. — Não sou obrigado a ouvir desaforo, estou sozinho e quero ver o que vocês vão fazer se eu for embora.
Até então ele contava com toda a minha simpatia; mas quem overbooka passageiro não pode falar grosso.
— Alto lá! — exclamei. — Não venha de ameaças. Essas pessoas têm todo o direito de ter um ataque de nervos. Você devia se dar por satisfeito pelo fato de que algumas ainda conseguem manter o sangue-frio!
Essa observação talvez tenha me custado a volta ao Rio. Ele passou vários suiços na minha frente e até embarcou duas pessoas que estavam lá atrás, mas deram carteiradas com passaportes de serviço. Na minha vez, já havia outros funcionários administrando o caos. Fui informada de que não havia feito nada errado, que a companhia vendera mais passagens do que lugares disponíveis na aeronave e que, àquela altura, tudo o que podiam fazer era me conseguir um lugar na TAM no dia seguinte.
Com a notória magnanimidade francesa, a Air France ofereceu aos overbookados hospedagem no Ibis (!) do aeroporto (!!) e refeições no hotel (!!!). Masoquismo tem limite. Pedi taxi de volta para a cidade. Ganhei um mísero cartão telefônico de dez minutos para 1) chamar o táxi; 2) avisar minha família e os meus colegas do atraso; e 3) chamar o taxi de novo no dia seguinte; um kit de toilette de última que não tinha sequer sabonete; um voucher para vôo futuro (ha ha ha); e o mais absoluto descaso de uma companhia que trata seus passageiros sem qualquer carinho ou cortesia, exatamente quando eles mais precisam de conforto. Os coitados que aceitaram o hotel, vim a saber, foram chutados de lá ao meio-dia, e as "refeições" eram pacotes de congelados que tiveram de aquecer no microondas.
Moral da história: quando vocês estiverem vendo televisão, e ficarem com uma incontrolável vontade de ir para Paris depois de assistir às lindas propagandas da Air France, apertem os cintos e amarrem-se correndo à primeira poltrona.
De casa.
(O Globo, Segundo Caderno, 18.10.2007)
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