Pipoca de avião
O Terminal
Diante da insólita situação, o chefe de segurança Dixon (Stanley Tucci) o deixa na área de desembarque, espécie de terra de ninguém dominada por lojas tão convenientes para o enredo do filme quanto para o merchandising da produção. Dixon imagina que logo a situação estará resolvida; mas o tempo passa e Navorski fica, mais ou menos como o iraniano que, desde 1988, vive no aeroporto Charles De Gaulle, em Paris.
Aos poucos ele aprende inglês, encontra expedientes para sobreviver e se enturma com os trabalhadores do aeroporto, uma tribo para Benetton nenhuma botar defeito: faxineiro indiano, copeiro hispânico, inspetora afro-descendente... enfim, uma verdadeira ode ao politicamente correto, tão ao gosto do diretor.
A vida no terminal nem seria tão ruim se Dixon não começasse a se sentir incomodado com o nosso simpático náufrago da globalização e não tentasse se livrar dele de todas as maneiras. Mas Viktor Navorski é Tom Hanks, e logo o aeroporto em peso está a seu favor, ajudando-o a driblar o perverso burocrata e, nas horas vagas, a conquistar uma aeromoça.
Com os mesmos elementos -- um inocente preso nas engrenagens do estado, revoluções, a vida nos aeroportos depois de 11 de setembro -- se poderia fazer um grande drama ou, pelo menos, um bom filme cabeça. Spielberg, porém, optou por uma comédia leve, um filme simpático que diverte sem dar ao espectador a difícil tarefa de refletir sobre o mundo contemporâneo.
Procurar significados ou simbologias neste "Terminal" é tão inútil quanto procurar, na vida real, uma aeromoça igual a Catherine Zeta-Jones, que faz a amada de Navorski.
Esqueçam a lógica, embarquem na história e... boa viagem!
(O Globo, Rio Show, 10.9.04)
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