4.7.04



Sic transit

Muitas coisas acontecendo, muitas coisas passando em branco enquanto tento me ajustar aos meus novos horários e à minha nova vida de pessoa que acorda em tempo de ir ao clube; eu queria escrever sobre Marlon Brando, por exemplo, por tantas coisas, mas sobretudo porque nunca vi homem tão bonito quanto ele no "Último Tango em Paris"; porque nunca vi ator como ele no "Chefão"; e porque, afinal, ele tinha aquele jeito estranho de ser, aquela atitude muito peculiar em relação à vida que se somou ao resto, e fez dele uma espécie de esfinge adiposa, muito mais interessante aos 150 quilos do que aos 30 anos.

Quando vi "Don Juan de Marco" pela primeira vez gostei demais; depois fui deixando de gostar, e hoje não sei nem se é um filme que assistiria se estivesse de bobeira num domingo à tarde. Mas uma coisa sempre mexeu muito comigo neste filme: o destino da Faye Dunaway.

Houve um tempo em que fazer par romântico com Marlon Brando era o sonho de todas as mulheres. Penso então numa jovem Faye Dunaway consultando uma cigana que lê a sua sorte e garante que ela, um dia, vai realizar este sonho; e não é que a profecia se concretiza, e de fato ela faz uma cena romântica... com um Marlon Brando cem quilos acima do peso?

A vida é especialista em fazer este tipo de brincadeira de mau gosto com as pessoas.

Ainda assim, o diabo do homem era um charme.

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A morte de Brando me lembrou a de Nino Manfredi, uma das primeiras notícias de impacto que li na Itália, durante as férias; foi uma comoção nacional, com páginas e páginas nos jornais, edições especiais das revistas de celebridades e muitas reedições de filmes nas bancas.

Nunca cheguei a ser fã de Manfredi como era de Marcello Mastroianni ou de Vittorio Gassman, por exemplo, talvez até porque ele não tivesse tanta visibilidade fora da Itália quanto os outros; mas fiquei muito sentida pelo significado da perda, pelo fim dessa extraordinária geração de atores italianos que, exatamente ao contrário de Brando, sempre me pareceram tão próximos e tão humanos.

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