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O Caso Pipoca:
Final Feliz
Passei uma das noites mais angustiantes, com o telefone ao lado da cama, esperando, esperando. De manhã ligou o inspetor, para saber como havia sido a conversa. Ficou muito desapontado quando eu disse que não houve conversa. Mas nem bem desligou, tocou o telefone novamente -- e era, agora sim, o marido da senhora hospitalizada.
A conversa foi cheia de dedos e de reticências. Não era momento de acusar ninguém. Aceitei a explicação de que não sabiam de nada e combinei ir buscá-la.
Liguei para a Mamãe e para a Laura, para dar a boa notícia; e me arrumei para sair com a Bia, o coração disparado de alegria.
Tocou o telefone. Era Jandira, empregada da Mamãe, preocupadíssima com a nossa ida à casa onde estava a Pipoca: "Como é que vocês podem saber quem vai estar lá? Uma sobe, a outra espera, pelo amor de Deus! Se não descer em dez minutos, chama a polícia..."
Enquanto eu falava com a Jandira, a Sandra, aqui de casa, sem saber da minha conversa, dizia para a Bia: "Eu, se fosse vocês, não ia lá assim não... Não é melhor uma ir e a outra ficar?"
Impressionadas com a coincidência de pensamento da Jandira e da Sandra, Bia e eu ainda ficamos meio assim assim -- mas como é que uma ia deixar a outra subir sem ir junto?! Na dúvida, telefonei para o inspetor Prates, a essa altura velho amigo da casa, e falei que estávamos indo buscar a Pipoca. Ele ficou felicíssimo e disse para não nos preocuparmos, que tudo ia correr bem.
O edifício é um daqueles bons edifícios de classe média de Copacabana. Deixamos o carro na garagem e subimos, mas ao chegar no andar nem precisamos olhar o número da porta: os latidos nos informaram que era lá mesmo.
Surpresa: o senhor que nos recebeu é muito gentil. Não consegui contar quantos animais havia na casa, entre cães e gatos, todos muito bonitos e bem tratados, mas todos meio aflitos com a nossa visita -- e também, imagino, pela superlotação quadrúpede. Fiquei com o coração apertado só de pensar nos dias da Pipoca no apartamento, por mais bem tratada que tenha sido: ela que tem tanto espaço só para ela, que desconfia de gatos e detesta cães.
Finalmente, uma moça nos trouxe a Pipoca, estalando de limpa, com uma coleira e... um vestidinho! Muito estressada, coitada. Não quis ser indelicada mas tirei o vestidinho; Pipoca nunca usou coleira porque, quando tentamos pôr uma nela, odiou aquilo profundamente. Gatos têm um senso de ridículo muito aguçado.
No carro, veio olhando a paisagem, desconfiada. Tensa mas quietinha: é mesmo um dos melhores gatos que conheço. Quando chegamos ao Corte de Cantagalo, desandou a miar angustiadamente. Estava reconhecendo o seu pedaço.
Eu não tinha dito ao Zé para onde ia: quis fazer surpresa. Quando chegamos em casa com a Pipoca, foi uma emoção geral! O Zé não cabia em si de contente, os vizinhos ficaram felicíssimos, uma comoção.
Pipoca tratou de fazer o reconhecimento do território. Foi para a garagem, se esfregou nos carros e nas motos e continuou miando -- tenho a impressão de que estava nos contando o que lhe aconteceu no cativeiro. Depois foi para o jardim -- o seu jardim -- deu uma corridinha na grama e se sentou ao sol, onde ficou se lambendo. Um pequeno milagre.
Não sei quem estava mais feliz, se ela ou nós.
(Termina aqui; mas continua...)
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