Privacidade? Na rede?
Estão me gozando...
Acho muito curiosa a celeuma que vem sendo armada em torno do GMail, novo serviço de email anunciado pelo Google (vejam reportagem do André Machado na página 4) .
Está todo mundo no auge da preocupação com questões de privacidade porque, em troca do Gigabyte que oferecerá aos usuários, o Google vai “varrer” a correspondência em busca de palavras-chave, para adicionar às mensagens publicidade dirigida. Mais ou menos como acontece atualmente na sua máquina de busca ou nos websites que usam o sistema de anúncios AdSense.
A meu ver, porém, esta questão simplesmente não existe — até porque só vai usar o serviço do Google quem quiser. A tal varredura da correspondência só afetará, portanto, usuários que decidam usar o GMail, e que pouco estão se importando se alguém varre ou não as suas mensagens. Duvido que perigosos terroristas da Al Qaeda venham a trocar emails conspiratórios via GMail, ou mesmo que gente de bom senso use, hoje, um hotmail da vida para enviar Informações Realmente Relevantes (IRR) — se é que ainda existem Informações Realmente Relevantes por aí.
Eu, pessoalmente, já deixei de acreditar em privacidade — na rede ou fora dela — há muito tempo. No dia em que tiver uma IRR para mandar para alguém, vou usar um sistema de criptografia básico, como o PGP, ou enviar uma carta pelo correio. Daquelas simplinhas, mesmo — registrado chama a atenção.
De resto, todo o conceito de privacidade é muito relativo — e muito recente. Até outro dia, a humanidade vivia amontoada e todo mundo sabia da vida de todo mundo. Como ainda sabe: afinal, qual é a privacidade que se tem atualmente numa cidadezinha do interior, numa rua inglesa ou num edifício com porteiro curioso? A melhor proteção que se pode ter é não escrever jamais, num email, nada que não possa sair na primeira página do jornal — para não sair na primeira página do jornal.
O mais estranho em relação à grita contra a varredura do Google é que ela nada mais é do que o que já fazem inúmeras ferramentas anti-spam, pelas quais se paga um bom dinheiro. Elas ferramentas percorrem cabeçalhos e conteúdo das mensagens em busca de palavras-chave, mas com um propósito diferente do Google: o de eliminar o lixo. Em tese, porém, poderiam ser tão fuxiqueiras quanto se teme que venham a ser as do GMail.
Babylon & Michaelis
Novidade no Babylon Pro: a empresa israelense fechou acordo com a Melhoramentos para pôr online, à disposição dos seus 22 milhões de usuários, o “Michaelis moderno dicionário da língua portuguesa”, cujos 200 mil verbetes vêm se somar ao verdadeiro mar de palavras do portal, especializado em tradução e conversões de modo geral.
Até breve, Cris!
Cristina De Luca, “sócia-fundadora” do Info etc. , que ajudou a criar e com o qual colabora desde o primeiro número, despede-se hoje destas páginas — mas não dos leitores. Ela poderá ser encontrada em breve, com o brilho de sempre, numa banca perto de vocês... ;-)
(O Globo, Info etc., 12.4.2004)
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