14.4.04



Angra e... Rosinha?!

A coluna da semana passada, em que eu falava de Elena, a motoqueira de Chernobyl, rendeu panos pras mangas e muitas dúvidas (a começar pela própria palavra: como diabos se escreve Chernobyl?). Vocês leram aqui a mensagem de um engenheiro nuclear a favor das usinas de Angra; agora leiam o que escreveu o leitor Lucillo Bueno.
Lí com muito interesse e muita admiração o artigo que você publicou sobre a coragem da motoqueira Elena, que voltou a Tchernóbil, desafiando um inimigo invísivel e mortal, movida pelo sentimento quase atávico de retornar ao berço natal. Voltou para contar o que aconteceu de fato ao seu lugar de origem e para nos relembrar da condenação desse lugar à morte, pelos próximos 600 anos.

Para mim, foi impossível ler essa história sem fazer analogia com a situação das Usinas Atômicas brasileiras. Com o que pode acontecer, se Angra I ou II sofrerem um acidente na proporção do que ocorreu em Tchernóbil. Começa que o o Governo não tem um plano realista para retirar as pessoas da região. O existente define a responsabilidade federal apenas sobre um raio de cinco quilôemtros em torno das usinas. O resto, justamente a área ocupada pelos 150 mil habitantes de Angra, fica por conta da Prefeitura. O que significa dizer que esses moradores só contam com a Rio-Santos para escapar, porque nem a estrada de ferro existente no Porto de Angra dos Reis, e que hoje está desativada, foi considerada como possibilidade para tirar as pessoas da região, no caso de um acidente nuclear.

Isso é extremamente preocupante, quando lembramos o que vários sites sobre o acidente de Tchenóbil relatam: só no primeiro dia, a nuvem de radiação atingiu um raio de 70 quilômetros de diâmetro. E deveria ser o suficiente para tirar o sono dos responsáveis por Angra I e II, se considerarmos que a distância entre Itaórna, onde estão as usinas, e Santa Cruz, na zona oeste do Rio de Janeiro, é exatamente de 70 quilômetros. Como na Costa Verde prevalece o vento sudoeste, é fácil concluir que numa situação de vazamento nas usinas, a nuvem radioativa de Angra chegaria ao Rio de Janeiro já no primeiro dia.

Fico me perguntando, então, por que insistir nestes monstrengos que só geram energia elétrica a custo altíssimo para um país tão privilegiado em bacias hidrográficas. Recursos cuja má administração quase nos levou a um apagão, em 2001, e que, claro, contribuiu para o lobby pró Angra III. Questiono como pode-se cogitar construir mais uma usina nuclear, se até hoje as existentes não sabem o que fazer com os dejetos que geram -- o próprio lixo atômico. Como não levar em consideração os riscos para a população de Angra e do próprio Rio de Janeiro.

As respostas para cada uma dessas questões passam por interesses muitos e outros que nada têm a ver com a segurança e o bem-estar da população. Passam por fatores provavelmente semelhantes aos que determinaram a construção das usinas de Tchernóbil e que estão ligados às causas do acidente que devastou a região russa. A tragédia que gerou a cidade-fantasma à qual Elena retorna.

Eu só espero que, no futuro, não haja Elenas cariocas pedalando em nossas ciclovias, para irem até a Rio-Santos matar as saudades..."

O meu pensamento vai mais por aí do que pela estrada tranqüila apontada pelo engenheiro. Se a questão não fosse no mínimo polêmica, usinas européias não estariam sendo desativadas.

Mas o que me preocupa mesmo em relação às usinas de Angra é que elas estão no Brasil. Em todos os sentidos.

Vocês conseguem imaginar o que seria um desastre nuclear sob a administração Garotinho?! Com o apoio federal do PT?!

Ma-nhêêêêêêê...!!!

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