Drogas: o xis da questão
Está muito na moda condenar os usuários de drogas como co-responsáveis, quando não responsáveis diretos, pela violência que assola a cidade. O raciocínio é simples (e simplista): "Se ninguém consumir, os traficantes não terão a quem vender".É tão fácil dizer "Párem de consumir" quando não consumimos nada, não é mesmo? Mas olhem em volta e vejam quantas pessoas vocês conhecem irremediavelmente viciadas em substâncias legais: chope, uísque, tranquilizantes, cigarro, carboidratos...
Eu mesma não fumo nem bebo, mas preciso emagrecer horrores. Não estou acima do meu peso porque quero, ou porque isso me agrada; pelo contrário.
Adoraria ser magra.
"Mas é tão fácil emagrecer!", me dizem todos os magros. "Basta parar de comer doce, ou deixar os carboidratos pra lá..."
Pois é. É o que eu venho tentando fazer desde que me tenho por gente. Sem o menor sucesso. E olhem que nem estou falando de drogas pesadas.
A minha sorte é que a dependência química de açúcar não me põe em contato com criminosos. Posso comprar chocolate em qualquer lugar sem ser vítima de achaques da polícia, sem ser ameaçada de morte por traficantes e sem correr o risco de ir em cana.
Se amanhã o chocolate for proscrito, eu talvez agüente uma ou duas semanas, mas é bem provável que, mais cedo ou mais tarde, acabe indo buscar as minhas barrinhas onde quer que seja, ao preço que me pedirem.
Parece brincadeira, mas não é. Estou falando muito sério.
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Em outras palavras, liberando o seu consumo da forma mais ampla possível.
É lógico que quando falo em liberação de consumo não estou falando no sentido consumista do termo. Ninguém que propõe a liberação das drogas com um mínimo de seriedade é louco de propor a sua distribuição descontrolada, com marcas chiques e mocinhas e mocinhos glamurosos fazendo propaganda na tevê e merchandising na novela das oito.
A liberação das drogas deve ser uma liberação sem charme, sem glamour, sem neons ou embalagens vistosas.
Antes de fugirem assustados daqui do blog, pensem: o que é pior, a distribuição legal controlada pelo estado ou a atual distribuição ilegal controlada pelo tráfico?
O consumo não é, em si, um caso de polícia. É um caso de saúde pública. Muito difícil de tratar mesmo em plena legalidade -- vide a quantidade de brasileiros viciados em drogas lícitas -- mas virtualmente impossível de controlar na ilegalidade.
Qualquer adolescente de cidade grande tem, hoje, acesso às drogas que quiser. O que muitos não têm, justamente por causa da criminalização das drogas, é a quem recorrer para se informar ou para pedir socorro.
Não é a ilegalidade que mantém os jovens longe das drogas, mas a educação e a informação. E, tenho quase certeza, uma certa predisposição genética.
Então, o que é pior: a garotada comprando maconha na farmácia a custo de cigarro, digamos, ou subindo o morro, às escondidas, pagando pelo bagulho o que tem e -- mais freqüentemente -- o que não tem?
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Não acredito que a liberação das drogas aumente exageradamente o seu consumo. Cigarro e álcool estão aí, à solta, e nem todo mundo vira fumante ou alcóolatra só por causa disso. De qualquer forma, o custo de campanhas educativas e de tratamentos contra a dependência custariam uma fração do que custa a guerra contra o tráfico. Com a vantagem de não fazer vítimas inocentes.* * *
Aliás, a guerra contra as drogas, conforme a gente sabe, nunca deu certo em lugar algum. A humanidade sempre se dopou, e vai continuar se dopando, seja lá com o que for.
A Colômbia é um país destruído por esta guerra inútil e, ao que eu saiba, continua exportando quantidades industriais de drogas para o mundo inteiro.
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Estou convencida, porém, de que, a médio ou longo prazo, a violência pode diminuir, sim, com a legalização das drogas. Hoje qualquer menino ganha, no tráfico, 500 reais por semana. Para começar. Qual é atividade honesta que pode concorrer com isso? Qual é o estímulo que um menino desses tem para permanecer na escola, aprender um ofício, se tornar um cidadão de bem?
Não adianta dizer a eles que a vida dos traficantes é curta. Uma criança mal tem noção do que é a vida, quem dirá a morte.
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Este é só o meu ponto de vista, a minha idéia sobre um dos aspectos dessa confusão em que estamos metidos.
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