Um homem, uma mulher, um celular
Fuso Horário do AmorPense num chavão qualquer de comédia romântica: ele certamente estará em “Fuso Horário do Amor”. Dos protagonistas que se encontram no meio de uma viagem à mocinha vulgar e maquiada que vira uma beldade sem o modelito “Pretty Woman”, está tudo lá, inclusive o galã cheio de neuras e problemas que quer fazer qualquer coisa no mundo, menos se apaixonar.
Quando o filme começa, nossos heróis Rose (Juliette Binoche) e Félix (Jean Reno) estão mergulhados numa típica situação de estresse moderno: há uma greve geral em Paris, os aviões se atrasam, o aeroporto está um caos, há passageiros descompensados e bagagens extraviadas por toda a parte.
Para cúmulo das misérias de Rose, ela vê seu celular sumir descarga abaixo logo na primeira cena. Poderia ter sido mais cuidadosa? Com certeza – mas aí não teríamos filme, já que, no próximo instante, ela pede o celular emprestado a um desconhecido. O resto praticamente se adivinha.
O que faz de “Fuso Horário” um bom filme, porém, é um pequeno detalhe que conta muito: a nacionalidade. A mesma história filmada em Hollywood daria engulhos. Os franceses, porém, acreditam que as pessoas – e, conseqüentemente, as platéias, como coletivos de pessoas – são, ou pelo menos ficam, adultas. De modo que, apesar das situações previsíveis e forçadas, seus personagens falam e se portam como gente, e não como caricaturas de adolescentes.
Rose e Felix são “pessoas usadas”, no bom sentido: já passaram dos 15 há algum tempo e, ainda que o roteiro não ajude muito, conseguem convencer o público de que não se materializaram assim do nada no aeroporto Charles De Gaulle. Nisso, aliás, os créditos vão todos para Binoche e Reno. Sem eles, a diretora e roteirista Daniele Thompson estaria tão perdida quanto uma mala embarcada pela Air France.
(O Globo, Rio Show, 7.10.2003)
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