Sorria: você está recebendo um telefonema!
O foco não é lá aquelas maravilhas e a resolução podia ser melhor — mas, reparem, todas essas fotos foram tiradas com telefones celulares! Há poucos anos, a gente ficava admirada quando falavam; hoje, já acha normal que façam e enviem fotos... e até reclama do resultado. Estamos sendo exigentes demais com essas maquininhas que, afinal, são apenas o primeiro estágio evolutivo de uma nova forma de comunicação.
O MMS (Multimedia Messaging System, ou sistema de mensagens multimídia) promete ser uma revolução tão radical quanto, à sua época, foi o telefone. Naquele tempo, pessoas que se comunicavam por escrito passaram a se falar à distância; hoje, quem fala vai passar a transmitir imagens, registrando comentários visuais do seu cotidiano: as flores que chegaram direitinho, o carro que quebrou em pleno trânsito, a beleza da tarde. Essas pequenas imagens não devem ser julgadas pelos parâmetros habituais que se aplicam às fotografias (foco, resolução, profundidade de campo etc.) mas sim pela eficiência do recado, pelo inusitado da composição, pelo inesperado da cena. Elas são informação, e não memória.
O impacto da novidade é previsível. Hoje já se vendem mais celulares com câmera do que câmeras digitais. Junto com eles, porém, espalha-se pelo mundo uma onda de preocupação com a privacidade das pessoas: há países em que os telefones celulares já estão sendo banidos de áreas públicas, como bares e academias de ginástica.
O fato é que câmeras fotográficas criam, ao seu redor, um estado de alerta, permitindo aos possíveis alvos das fotos um mínimo de defesa. Mas os celulares com câmera, pequenos e ainda pouco conhecidos, não despertam nenhuma desconfiança. Resultado: milhões de fotos de gente pagando mico, na maior inocência, cruzam os ares rumo a outros celulares. Ou — pior! — rumo à internet, onde já existem vários blogs e fotologs que dispensaram o computador, sendo atualizados diretamente através de telefones.
Algumas empresas jornalísticas já descobriram o potencial dos celulares 3G. A principal delas é a BBC, que há cerca de um mês transmite, com regularidade, reportagens inteiramente produzidas nos telefones dos seus correspondentes. Todas deixando muito a desejar em termos de imagem — mas, em compensação, trazendo para o noticiário a visão, em tempo real, de um mundo em que tudo, afinal, é visível.
(O Globo, Info etc. especial sobre telefonia móvel, 20.11.2003)
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