12.10.09

Nokia N97

O começo de uma bela amizade


Na coluna passada, depois de tecer umas considerações sobre o touchscreen, fiquei devendo minhas impressões sobre o Nokia N97. Ando com ele há duas semanas e, se tivesse que defini-lo numa única palavra, esta seria “confusão”. Explico. Há aparelhos que se compreendem e se amam à primeira vista. Sem retroceder muito, volto ao N95 que, em algumas horas de convívio, me deixou convencida de que aquele era o melhor celular que eu jamais vira ou usara. O tempo só fez reforçar esta primeira impressão: tudo nele é lógico, simples e muito bem resolvido. De meados de 2007, quando comecei a usá-lo, testei vários celulares, de diversos fabricantes, e nenhum me deu vontade de substitui-lo. Isso não é dizer pouco: não me lembro de ter passado tanto tempo com um mesmo aparelho, ainda que em diferentes encarnações (hoje um 8Gb).

O N95 foi o ápice da evolução de uma linha de smartphones em que as telas ainda eram para ser vistas, e não dedilhadas. O N97 é pioneiro de uma revolução que casa telas e teclas. Os dois estão, portanto, em pontos evolucionários opostos; isso é importante para situar o N97.

Sólido, lindamente construído e bom de pegar, ele é um animal híbrido, meio touchscreen, meio teclado. Fechado é um bloquinho liso com botões nas laterais (inclusive uma excelente trava) e uma única tecla na frente. Aberto de lado, apresenta um teclado qwerty. É uma máquina poderosa, com todos os recursos que um smartphone pode oferecer. Quando se abre o teclado, as informações da barrinha traseira dão o recado respeitável e sucinto: 32Gb / AF 5MP Carl Zeiss / A-GPS / Bluetooth 2.0 / WLAN / 3G HSDPA / USB 2.0 / FM RDS. O browser e a navegação são maravilhosos, o GPS uma delícia e a câmera, como já é tradição na linha N, muito boa. Acrescente-se o fato de que é excelente como telefone, e que o som do player é ótimo, mesmo sem headphones.

Entre as muitas qualidades do N97, contudo, não está a facilidade de uso. Depois de duas semanas, ainda me confundo ao manuseá-lo: teclado ou touchscreen? Um ou dois toques? Arrasto ou clico? A interface, ainda que bastante personalizável, tem informação demais, e os ícones são positivamente bisonhos quando comparados ao elegante design que a Apple tornou padrão. Este não é um aparelho pelo qual a gente se apaixone à primeira vista, ou que nos convença, de imediato, que é o estado de arte da indústria. Muita coisa pode ser melhorada nele, e não tenho dúvida de que será.

E, no entanto... Pois é. A despeito da interface complicada e do desafio que lança ao usuário disposto a domesticá-lo, o N97 é a primeira ameaça séria que encontro para o N95. Ao contrário do N95, ele não é perfeito dentro do que se propõe; mas a sua proposta é tão interessante que voltar para o N95 seria agora, de fato, um passo atrás.

O Nokia N97 não é um celular que eu recomende para pessoas impacientes, que querem apenas telefonar e sincronizar o aparelho com o Exchange. Já quem acredita que, para uma boa relação, é preciso um tanto de empenho, tem tudo para ser feliz com ele -- até que um próximo lançamento os separe.


(O Globo, Revista Digital, 12.10.2009)

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