Projeto Médici
Taí uma empreitada histórica da pesada: desde junho passado, um grupo de especialistas está exumando e estudando os Médici, de Florença, a família mais poderosa do Renascimento italiano, em busca de pistas sobre sua saúde, alimentação, características físicas e outras informações contidas nos restos mortais.Primeira Grande Revelação: Garcia e Giovanni, filhos de Cosimo I que faleceram praticamente ao mesmo tempo em 1562, e que desde então se acreditava terem sido vítimas de assassinato, morreram provavelmente de malária, doença que, logo depois, levaria sua mãe, Eleonora de Toledo.
Acontece que não há qualquer marca de corte nos ossos dos rapazes, o que aponta contra a teoria do assassinato: ainda que seja teoricamente possível liquidar alguém com facas e espadas sem atingir os ossos sequer de raspão, na prática isso não é provável.
Enquanto aguardam os resultados dos testes de DNA, os historiadores se debruçam sobre os relatos da época que dão conta de severos acessos de febre sofridos pela família pouco antes da trágica seqüência de mortes.
Eleonora de Toledo, que media 1m58 e que, como as damas do seu tempo, usou saias compridas a vida inteira, não escapa do momento da verdade, ainda que este chegue quatro séculos depois de sua morte: tinha as pernas tortas.
Tinha também dentes muito ruins, o que foi normal durante séculos: reparem como ninguém sorri com dentes à mostra nos retratos antigos.
No total, a equipe de cientistas vai investigar 19 múmias, duas múmias esqueletais (seja lá isso o que for), 23 esqueletos e ossos de cinco outros indivíduos.
É uma pena que justamente os dois membros mais famosos e interessantes do clan, Cosimo "Pater Patriae" (1289-1464) e Lorenzo, o Magnífico (1449-1492), fiquem fora do projeto. Seus túmulos, esculpidos por Michelangelo, foram considerados frágeis demais para se abrir.
E, já que estamos nisso: "Abril Sangrento -- Florença e o complô contra os Médici", de Lauro Martines (Imago, 343 páginas) é um dos melhores livros que li ano passado. Um complemento perfeito para a minha "biografia" favorita da família, "Ascensão e queda da casa dos Médici", de Christopher Hibbert, publicado aqui pela Companhia das Letras.
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