11.10.04

Apoena



Apoena

Acabo de chegar em casa. Liguei a televisão para ver o repeteco do Fantástico, na GloboNews, e o assunto era o assassinato do Apoena Meireles.

Foi um choque.

Conheci Apoena em Brasília, há mais de 20 anos. A cobertura da Funai e das questões indígenas em geral era feita pelas sucursais da capital, e eu trabalhei em duas delas, a da Folha e a do JB.

Nunca cobri a área. Ao contrário, sempre tive certa implicância com quase tudo que diz respeito a índio; implico com a idéia do bom selvagem, com o tamanho das reservas que, mais dia menos dia, viram um país à parte, com a política indigenista e com a suposição de que o índio é, necessariamente, amigo da natureza.

Isso não quer dizer que não tenha pena -- muita pena -- da situação em que se encontram os nossos índios, até porque não vejo qualquer possibilidade de sobrevivência, a longo prazo, das suas tradições e do seu antigo estilo de vida.

Pois quando eu estava em Brasília discutia muito tudo isso com os colegas e com os sertanistas que conheci por lá.

Um deles era o Apoena.

Me lembro bem dele, um dos defensores mais intransigentes que os índios jamais tiveram. Muitas vezes me irritava com a sua posição, que me parecia de uma parcialidade quase irracional; mas ele era tão sincero que, no fim, era impossível não gostar dele e não respeitar aquela teimosia tão apaixonada.

Voltei para o Rio em 1981. Nunca mais nos vimos mas, pelos jornais, às vezes sabia dele. Ainda há pouco, naquele caso dos garimpeiros assassinados, lá estava o Apoena, mais uma vez dando razão aos índios -- e eu, do lado de cá da página, ainda discutindo, em pensamento: "Caramba, Apoena, se toca, não há inocentes nessa história!"

Que morte mais besta, meu Deus.

Que tristeza.

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