Fotolog: como sair do buraco?
Na quarta-feira passada, o Fotolog surpreendeu os usuários com uma tela de abertura inusitada: nela, Cypher, um dos seus três fundadores, pedia a ajuda de todos para evitar o colapso definitivo do site. A questão é que o Fotolog está na bacia das almas. Tem dívidas superiores a U$ 70 mil, porque não é fácil sustentar um site com meio bilhão de page views por mês (equivalentes a 22 Terabytes de banda) se, dos seus supostos 650 mil "inquilinos", apenas oito mil, se tanto, pagam o aluguel. No momento, o Fotolog tem uns 70 servidores para processar e armazenar 21 milhões de fotos com respectivas mensagens. Apenas na última sexta-feira entraram cerca de 125 mil novas fotos no ar.Para quem acompanha o site desde o inícioo, esses números são, justamente, a razão dos seus males. O que fez o sucesso do Fotolog foi, ao lado da interface imbatível, a facilidade de uso e a velocidade de postagem e visualização das imagens. Quando ele "explodiu" e começou a crescer de forma desordenada, o que antes funcionava tão direitinho passou a ser, como era de se prever, uma corrida de obstáculos.
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Ao longo do último ano, praticamente não houve momento em que alguma coisa não estivesse enguiçada. Ou eram as fotos que não abriam, ou os comentários que se trancavam, ou as listas de favoritos que desapareciam. A administração reconhecia os problemas, informava que estava instalando novos servidores, agradecia a paciência do distinto público... e continuava fazendo tudo como antes, mantendo as portas abertas ao maior número possível de inscrições gratuitas. Num mínimo de tempo.Este comportamento, profundamente injusto para com os pagantes, foi questionado à exaustão no grupo de discussão, onde um núcleo de fotologgers aguerridos sugeria providências sensatas como trancar o site para novas inscrições gratuitas até que o sistema se estabilizasse, criar uma limitação para o número de fotologs por usuário ou dar um tempo determinado para os testes grátis. Pensem em qualquer saída possível para um site de comunidades e ela foi, em algum momento, aventada no forum.
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Ninguém entende por que a administração insiste em se manter numa rota visivelmente equivocada; mas o poder de sedução do Fotolog é tão grande que, mesmo desestimulados e sentindo-se desprestigiados, os floggers de fé continuam gravitando em torno da sua órbita. A tal ponto que, em menos de 48 horas, o "chapéu" do Paypal recolheu mais de U$ 8 mil. Usuários que há tempos haviam cancelado o pagamento das mensalidades em protesto contra as constantes falhas do serviço voltaram a ativá-las; outros registraram-se como pagantes pela primeira vez.A verdade é que, apesar de todas as imitações e novidades do ciberespaço, ainda não se inventou nada melhor do que o Fotolog; e, ainda que se invente, será difícil, se não impossível, reproduzir num outro contexto o mesmo clima de "família" que se criou por lá. Resta agora torcer para que, com o susto -- e a notável demonstração de afeto recebida -- a administração dê ouvidos aos usuários e pise no freio enquanto há tempo.
Para quem gosta do Fotolog, e até hoje não se tocou de que internet é um negócio muito caro, fica o meu mais sincero apelo: aproveitem que agora, através do Ubbi, se pode pagar em reais (e em diversas modalidades) e -- por favor! -- registrem-se como pagantes. Sério mesmo. Abram mão de um cinema, de umas cervejas, de um lanche no MacDonalds, de uma camiseta nova, um brinco ou um brinquedo. Garanto que quinze reais mensais não vão fazer nem parte da falta que fará o Fotolog, caso venha a ser desativado.
(O Globo, Segundo Caderno, 4.10.04)
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