7.6.03





Madrugada

Cinco da manhã. No silêncio, o barulho de um carro batendo. Corri com os gatos para a sala: um taxi acertou o poste lá embaixo. O motorista deve ter dormido ao volante, porque não ouvi freada, nem havia marcas de pneus no asfalto. Saía fumaça do capô.

Logo um outro taxi parou, e um outro. Uma viatura policial, na pista oposta, passou direto. Os motoristas abriram a porta do colega acidentado. Olharam, e um correu para a cabine da PM, a cem metros -- como sempre, vazia. Um ônibus parou do outro lado. O motorista, o trocador e dois passageiros desceram para ver o que estava acontecendo. Um dos taxistas continuava segurando a porta aberta.

Uma segunda viatura da PM conseguiu o prodígio de passar direto também -- com um ônibus, três táxis e alguns carros particulares parados em plena pista, no meio da madrugada! Apesar dos acenos das pessoas, sequer diminuiu a velocidade. O descaso não me surpreendeu, mas confesso que fiquei muito impressionada com a falta de curiosidade dos hômi.

Os bombeiros, que ficam aqui ao lado, na Praça Eugênio Jardim, levaram mais de 15 minutos para aparecer -- mas, em compensação, vieram em três carros, fazendo uma alaúza que só. Tiveram dificuldade em tirar o motorista do carro mas, aqui de cima, ele não me pareceu machucado. Não devia estar mesmo: a ambulância ficou parada quase dez minutos no local do acidente.

Saí da janela quando foi embora, de sirene ligada para arrancar da cama os poucos moradores que não tivessem sido acordados com a sua chegada. Os táxis já haviam retornado ao trabalho e uma turma de bombeiros se esforçava para tirar o carro amassado do lugar, enquanto o amanhecer começava a recortar as montanhas do fundo da noite.

A vida no meu pedacinho de mundo estava voltando ao normal.

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