3.1.02




Clicando até o fim

Entre as lembranças digitais mais impressionantes do dia 11 de setembro de 2001, estão cerca de 150 fotos preservadas no cartão CompactFlash de uma das câmeras de Bill Biggart, fotógrafo profissional soterrado quando a segunda torre do World Trade Center desmoronou.

Bill, que trabalhava para uma pequena agência alternativa de Nova York, saíra de casa às primeiras notícias sobre os atentados, e telefonara para a mulher, Wendy, pouco depois do colapso da primeira torre. Disse que estava são e salvo na companhia de uma equipe de bombeiros, e que em breve a encontraria no estúdio de ambos, a poucas quadras das torres, com a primeira leva de trabalho.

Wendy só soube dele cinco dias depois, quando seu corpo foi encontrado junto com os dos bombeiros que acompanhava. A seu lado, a sacola com equipamentos e filmes destroçados. Os pertences de Bill foram liberados pela polícia duas semanas depois da catástrofe, e Wendy logo os levou para o estúdio de Chip East, fotógrafo ele também e melhor amigo do seu marido.

As duas câmeras de filme estavam em pedaços, e foi impossível salvar delas mais do que meia dúzia de fotos, parcialmente veladas; a câmera digital, porém -- uma Canon EOS D30 -- estava relativamente inteira. Mais importante do que isso: o CompactFlash estava intacto. Através das fotos - algumas delas estão em digitaljournalist.org -- é possível refazer a meia hora final da vida de Bill Biggart. Ele observa a queda da primeira torre e as pessoas ao seu redor, em estado de choque com o que acontece; olha para cima e, aos poucos, se aproxima mais e mais do Ground Zero.

A nuvem de poeira é cada vez mais densa, há policiais e bombeiros por toda a parte e, finalmente, a foto única, que ninguém mais fez: o Marriott cortado ao meio. A hora gravada no arquivo: 10h28m. A segunda torre cairia menos de um minuto depois, às 10h29m.

(O Globo, 30.12.01)

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