16.3.09

Bossa 09


Quando os geeks se encontram

Meu primeiro pensamento, quando recebi o convite do Instituto Nokia de Tecnologia (INdT) para o Bossa 09, foi o de que a turma realmente não tem mais trocadilhos para inventar. Errei. O Bossa Nove chamou-se assim apenas por ficar entre o Bossa 08 e o Bossa 10. Em seu terceiro ano, o evento, relativamente pequeno mas muito focado, já está na agenda da comunidade mundial do software livre. A idéia por trás da sua realização é a divulgação do trabalho brasileiro na área, que é da melhor qualidade, mas que, até 2007, era relativamente pouco conhecido fora do país.

A crise econômica atingiu o Bossa 09, que teve, esse ano, 180 participantes, contra os 240 dos anos anteriores; mas como tamanho não é documento, os organizadores estavam bem satisfeitos com o resultado. Por exemplo: nas primeiras edições, os palestrantes eram todos convidados, com passagem e hospedagem pagas pelo INdT. Pois o Bossa já está tão bem cotado que, na versão 09, 30% deles vieram com seus próprios recursos.

-- A internet é ótima, e propicia excelentes contatos, mas nada substitui um encontro ao vivo, onde se pode discutir, trocar idéias, fazer workshops, -- diz Sandro Alves, diretor de programas e colaboração do INdT.

A língua oficial do Bossa é o inglês, o esperanto da tecnologia, já que além de brasileiros havia finlandeses, alemães, noruegueses, australianos, poloneses e americanos presentes. O cenário não podia ser mais bonito: um resort em Porto de Galinhas, Pernambuco. Os europeus, fugidos de um dos piores invernos, estavam deslumbrados com o calor e com o mood tropical que os cercava – mas tenho sérias dúvidas se chegaram sequer a ir até a praia, a uns 500 metros do centro de convenções. Ao longo do dia, e pela noite adentro, o que mais se via eram grupinhos reunidos em torno de notebooks e celulares, em discussões muito animadas à beira da piscina.

O Bossa é, essencialmente, um encontro de desenvolvedores, ou seja, aquele pessoal que escreve programas. Ao contrário de muitas conferências em torno do software livre, a filosofia do Open Source nem entra em pauta, já que, em todas as palestras, predominam os aspectos técnicos. Tentei assistir a algumas delas e desisti logo nos primeiros minutos – a bola voa tão alto que a gente nem vê.

-- Pois é isso mesmo que a gente quer, -- diz Sandro. – O pessoal dificilmente encontra esse nível por aí. Aqui não tem evangelista, só gente que vive com a mão na massa.

E o que é que essa gente tanto discute? Ah, isso a gente vai descobrir daqui a um tempo, nas telas dos nossos celulares...


(O Globo, Revista Digital, 16.3.2006)

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