26.5.04









"Janela indiscreta" à brasileira

À primeira vista, Regina poderia ser a típica aposentada de Copacabana. É muito solitária, mas veste-se direitinho, usa uns tênis bacanas, tem uma cachorrinha vira-lata mas bonitinha -- e, como tantas e tantas senhoras, passa os dias bisbilhotando a vida alheia. A diferença é que a sua bisbilhotice é quase uma profissão, já que informa à polícia, regularmente, o que acontece de suspeito à sua volta.

Um dia, xeretando os apartamentos do outro lado da rua com seus binóculos, vê uma cena estranha: um homem dá uma injeção na mulher, que morre em seguida. Regina liga para a polícia. No dia seguinte, o delegado lhe diz que 1) a mulher já estava mal de saúde; 2) a injeção era apenas um remédio; 3) o suposto assassino é juiz; e 4) não precisa mais dos seus serviços de informante.

Ela fica arrasada, decide investigar o crime por conta própria e, em pouco tempo, acaba se envolvendo com o suspeito.

Em linhas gerais, esta é a história de "O outro lado da rua". Primeiro longa do diretor Marcos Bernstein, o filme é pequeno, simpático e intimista, e se sustenta principalmente pelo fato de que ela é Fernanda Montenegro e ele é Raul Cortez.

A vida de Copacabana está muito bem reproduzida em cena e os cenários são excelentes: quem quer que tenha parentes ou amigos idosos no bairro vai reconhecer imediatamente a geografia das casas, os móveis, os ambientes que já foram o que havia de moderno mas há anos desistiram de lutar contra o tempo. O roteiro tem alguns furos -- o mais notável sendo, a meu ver, a velocidade com que a polícia aparece quando convocada -- mas nada que prejudique o andamento da trama.

O que me perturbou ao longo do filme foi a relação entre Regina e sua cadelinha -- que é, aliás, uma ótima atriz quadrúpede. A interação entre as duas não me convenceu. Acho que a bichinha tinha que estar mais presente, tinha que ocupar mais espaço -- sobretudo na metade final do filme, quando praticamente desaparece de cena.

Mas esté é, claro, um detalhe que vai passar despercebido para a maioria das pessoas. Como um todo, "O outro lado da rua" é um filme amável e delicado, que funciona muito bem.

Se eu tivesse assistido à sessão "oficialmente", daria no mínimo um bonequinho aplaudindo sentado.

Obs: as fotos acima são de telefone.

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