Fala, Tom!
O Tom Taborda fez um ótimo apanhado sobre a discussão que travamos aqui a respeito da liberação das drogas, vejam só:
Ufa! Valeu!
Depois de mais de trezentos comentários, já podemos traçar um perfil resumido dos argumentos contra a liberação das drogas:
1 - "Faz Mal". Bem... se formos proibir tudo aquilo que tenha sido provado experimentalmente que pode fazer mal (causar comprovados problemas de saúde, sociais ou psicológicos) ao organismo humano... não iria sobrar muita coisa na nossa sociedade moderna. Como, por exemplo, a droga do McDonalds, as frituras ou o açúcar refinado (falando nisso, viram a hipócrita reação dos traficantes, digo dos usineiros nacionais, à sugestão da OMS de diminuir a quantidade de açúcar nos nossos produtos industrializados?). E, sabendo dos riscos -- como os fumantes sabem -- e da responsabilidade dos seus atos, cada pessoa tem o direito de consumir aquilo que SABE que pode lhe fazer mal.
1.a - na vertente mais dramática é "fulano se tornou um viciado decadente". Sinto muito, mas este sujeito já tinha uma predisposição genética para se tornar um viciado, seja à droga legal ou ilegal. Para estes, existem as clínicas especializadas e grupos de apoio.
2 - "É ilegal". Como se a Lei fosse algo imutável. Nem sempre o que é Legal é Justo, Moral ou Ético. O Apartheid era Lei, na África do Sul. Como disse Camões: "Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades". E é o que se discute aqui.
2.a - Convém lembrar que a defesa da Descriminalização das Drogas não é a defesa da ilegalidade, mas justamente ao contrário: da ampliação da Legalidade. Como foram todos os movimentos libertários da História. Tem muita gente, por exemplo, que acha que os gays são doentes, ou sofrem de algum desvio moral ou de caráter e assim sempre foram historicamente perseguidos e, muitas vezes, legalmente proibidos aos olhos da Lei. Pouco a pouco, no entanto, amplia-se o abrigo da Lei aos homossexuais.
3 - "Isso irá aumentar o consumo". Se assim fosse, com as bebidas alcoólicas liberadas, não seriam necessárias as campanhas publicitárias milionárias que bombardeiam os meios de comunicação, para fazer o consumidor, sobretudo o jovem, beber MAIS cerveja. E a liberação das bebidas alcoólicas não propiciou os quadros de descrição dantesca -- bêbados espalhados pelas calçadas, colegas de trabalho completamente embriagados -- que a imaginação dos que impuseram a Lei Seca nos EUA pintava.
Mas tal descrição dantesca mais parece retratar o OktoberFest -- visto pela ótica conservadora --, evento oficial promovido pela prefeitura de Blumenau, para onde convergem milhares de turistas, atraídos pelo único propósito de consumir quantidades industriais de cerveja e 'beber até cair'. Enquanto não caem desfalecidos pelas calçadas, meio-fio e marquises, dançam alucinadamente ao som de orquestras que se revezam e... vomitam e mijam nos jardins, canteiros e muro das cidade, que se torna um enorme mictório a céu aberto (não parece uma festinha Rave?).
4 - "irá causar acidentes, badernas, violência". Acidentes, badernas (inclusive aquela do churrasquinho no play do condomínio, movido à cerveja) e violência continuam sendo problemas de Ordem Pública, da esfera policial, cujos autores sofrerão o AGRAVANTE de estarem sob o efeito de drogas ou álcool, causando incômodo, prejuízos ou danos a terceiros.
5 - "Porque não usam ___ ou fazem ___". E não poderiam faltar, é claro, aqueles que querem dizer ou impor aos outros o quê fazer... aqueles que sabem o único caminho para a verdade e a vida. O deles. Aqueles que não aceitam a diferença.
6 - Considerações econômicas diversas; que tudo vêem, menos a absurda quantidade de dinheiro que circula fortalecendo exclusivamente a ilegalidade e a corrupção da sociedade.
7 - Temos também aqueles que afetam preocuparem-se com o destino dos trabalhadores do tráfico. Só para ficar num exemplo inocente: lembram as dezenas de Agências de venda de Linhas Telefônicas, que comercializavam o 'produto' à margem da legalidade (a transação ilegal era feita do lado de fora das lojas das telefônicas)? Sumiram, sem deixar saudades, assim que as Linhas Telefônicas deixaram de ser massa de manobra de interesses políticos e tornaram-se simplesmente um serviço (assim como eu espero que as vans desapareçam, substituídas por um Transporte Público decente). Sem a menor consideração pelos pobres trabalhadores deste setor.
8 - E, finalmente, aqueles que que preferem não discutir o que está sendo discutido, desfiando um rol de outras questões sociais. Concordo com a inegável importância delas. Mas se assim for nada, absolutamente nada pode ser discutido, nem mesmo, digamos, o padrão da nova TV Digital de Alta Definição ("para quê discutir TV digital se ainda não tem pão na mesa da população"). Típica argumentação vazia e demagógica. E que não põe pão na mesa da população.
Algumas ressalvas apontadas, no entanto, são pertinentes:
1 - Onde comprar, onde usar. Aos poucos, com bom-senso, irá se descobrindo onde se poderá comprar e usar. Hoje mesmo, já não se pode fumar em muitíssimos lugares, públicos e privados (ônibus, trens e metrô, restaurantes, cinemas, teatros, até mesmo nas redações dos jornais, coisa impensável a alguns anos: jornalistas eram movidos a cigarros); o uso de bebidas alcoólicas tampouco é permitido em muitos outros (p.ex: estádios de futebol; e nunca se permitiu beber em serviço, durante o 'expediente', em lugar algum); supermercados não vendem cigarros; outros estabelecimentos não vendem bebidas alcoólicas; e, teoricamente, é proibida a venda de álcool e tabaco para menores. E seria proibida a publicidade, assim como é na Europa com o cigarro, o álcool e os medicamentos (para a tristeza dos publicitários).
Falando nisso, acham normal a proliferação de farmácias e drogarias, duas a cada quadra, nas ruas principais de nossas cidades? Vendendo tudo quanto é medicamento, com ou sem receita médica. Como gostamos de nos drogar...
2 - Os marginais iriam competir com o produto legalizado, vendendo aquele contrabandeado e livre de impostos. Mas exemplos disso já não ocorrem à luz do dia, sob a vigilância das câmeras e nas barbas das autoridades competentes? Sejam o tráfico de cigarros, contrabandeados às claras na Ponte da Amizade, ou os diversos produtos piratas vendidos nos camelôs de qualquer esquina, ou as vans de transporte clandestino atulhando as ruas. Exemplos que demonstram o pouco apreço que o Estado tem pelos que pagam seus impostos. Esta absoluta ausência do Estado, deixando o cidadão desprotegido é uma outra discussão a ser resolvida com a prática efetiva da Cidadania.
3 - Qualquer país que tome uma decisão destas, um oásis de liberalidade cercado por um mundo conservador, traria o risco de atrair para lá a escória dos países vizinhos. O que torna ainda mais corajosa a política holandesa, apesar deste risco. Teria que haver uma mudança mundial de mentalidade e política. Talvez, este sim, seja o maior obstáculo. Mas temos esperança, a humanidade tem evoluído. E, com ela, as Leis e os Costumes. (Tom Taborda)
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