24.5.04



Encontro marcado para negócios

Quem já foi a qualquer grande feira de informática sabe como é difícil conquistar a atenção do público: há estandes demais e tempo de menos, o ambiente é confuso e barulhento e, por toda a parte, há empreendedores querendo, justamente, chamar a atenção do público. Para isso vale tudo, da presença de celebridades à realização de gincanas, sorteios e a indefectível distribuição de camisetas. Para complicar, muitas vezes expositores e visitantes falam línguas diferentes.

Observando isso, Ken Richards — um americano simpático casado com argentina, que fala espanhol perfeito, bebe chimarrão e tem linguagem corporal latina, apesar dos olhos de aço de vilão de sessão da tarde — decidiu criar um encontro diferente, menor, mais tranqüilo, em que produtores e vendedores de produtos de tecnologia pudessem de fato conversar e trocar idéias. Assim nasceu o Latin Channels, cuja 11ª edição aconteceu na semana passada em Montevidéu, no Uruguai.

A fórmula é simples e eficiente. Pega-se um hotel que tenha bons espaços para reuniões e onde os quartos de um ou dois andares possam ser transformados em escritórios; chamam-se fabricantes que queiram fazer negócios na América Latina e convidam-se os principais canais (atacadistas, varejistas, integradores) da região. Eles são divididos em grupos com interesses e problemas semelhantes, e espalhados por salas de reuniões, onde se realizam pequenas palestras dos fabricantes. Como nas salas de aula, em que os alunos ficam mas os professores mudam, os grupos ocupam as mesmas salas ao longo dos quatro dias do evento. É o exato oposto das feiras tradicionais, em que os exibidores ocupam os lugares fixos. À tarde realizam-se debates, em que os revendores explicam aos fabricantes as dificuldades e peculiaridades de seus negócios.

* * *

A conta das passagens, do hotel e das refeições é paga pelos fabricantes — mas, para garantir que os convidados de fato assistam às palestras e participem dos debates, dá-se a eles “passaportes” que devem ser carimbados nos “escritórios” dos fabricantes. Um passaporte pouco carimbado leva a um destino cruel: o desconto das despesas da viagem no cartão de crédito do “viajante” faltoso. Funciona que é uma beleza.

* * *

— Depois do 11 de setembro o mercado mudou muito, — diz Richards. — Houve uma queda acentuada nos negócios em toda a região. Mas a retomada está bem evidente agora: no ano passado tivemos 15 fabricantes, este ano 32. E só não foram mais porque já não havia espaço disponível. Mas no ano que vem vamos dividir o evento em dois, um voltado para o Norte (países da Amércia Central e México) e um para o Sul.

Além disso, há empresas que não são exatamente do ramo de informática interessadas em participar, como Sony e Bose. Do lado das revendas, o interesse é ainda maior, já que têm uma chance de discutir diretamente com os fabricantes soluções para problemas do setor. Há sempre mais candidatos a convidados do que convites disponíveis.

Segundo Ken Richards, participar das reuniões do Latin Channels tem sido uma revelação para muitos empresários americanos, que ainda pensam na América Latina em velhos estereótipos.

— Há muito desconhecimento em relação ao mercado, — explica. — Por incrível que pareça, na cabeça de boa parte do empresariado americano a América Latina ainda é sinônimo de selva, narco-terrorismo e corrupção. Quando eles vêm ao continente e visitam um shopping em São Paulo ou passeiam por Buenos Aires, ficam bobos — e percebem que, em muitos aspectos, aqui não é tão diferente de lá. Cá entre nós, se na América Latina a corrupção é uma arte, no Estados Unidos já foi transformada em ciência. Basta ver o que Bush e sua gente estão fazendo no governo.

* * *

Para os 30 atacadistas, 70 varejistas e dez integradores de sistemas que foram a Montevidéu conversar com empresas como nVidia, ATI, Creative, Logitech e Microsoft, entre outras, a viagem é, também, uma oportunidade de trocar idéias com gente do ramo. Todos os participantes com quem conversei estavam muito satisfeitos com o evento — e nada infelizes com o seu formato de colégio interno, pelo contrário. Aproveitar o tempo bem, com foco nas questões relevantes, foi o ponto mais elogiado; a falta de investimento dos fabricantes em marketing, por sua vez, foi a queixa mais comum. Vamos ver se eles se acertam até o próximo Latin Channels.

Foto digital no Senac Rio

Julio Preuss e Nelson Martins são a dobradinha que apresenta, no próximo dia 26, às 19hs, a palestra “Fotografia digital — da escolha do equipamento à impressão”. Inscrições gratuitas pelo 2545-4848. No Senac Rio, Rua Pompeu Loureiro 45, Copacabana.


(O Globo, Info etc., 24.5.2004)

Nenhum comentário: