17.10.02



Eleições, ainda...

Acho que a votação maciça do Enéas não é só um problema do sistema eleitoral. É também uma conseqüência imprevista do uso das urnas eletrônicas, que não permitem o voto de protesto em candidatos não existentes, como o Cacareco ou o Macaco Tião. Ou alguém duvida que, se ainda estivéssemos no velho sistema dos papeizinhos, o Seu Creysson não levaria de goleada? A diferença é que o Seu Creysson não iria para o Congresso, nem arrastaria consigo aquela fila de nulidades.

Como resolver a questão do voto de protesto com a urna eletrônica? O voto em branco não é nada. O nulo é, eventualmente, um sinal de revolta contra o sistema como um todo, mas não especificamente contra os candidatos. Deveria haver uma saída para quem, não desejando votar em candidato algum em certas categorias, pudesse, ainda assim, lavrar o seu protesto de forma inequívoca, sem precisar recorrer à figura mais grotesca do páreo.

O Tom Taborda encontrou (para variar!) uma sugestão curiosa em relação a isso. Vejam o que ele me escreveu:

Considerando que a maciça eleição do Eneias seja uma forma de voto protesto-cacareco, pego carona numa sugestão que li faz tempos, publicada no People's Almanac #2 (1978), no interessante capítulo final. O leitor Ian McNett escreveu para a Harper's Weekly (Dec 15, 1975) sugerindo a instituição do voto 'Nenhum dos Anteriores-NDA':

"Se os eleitores não gostassem dos candidatos oferecidos pelos partidos, votariam 'NDA'; se nenhum candidato ultrapassasse os votos 'NDA', haveria nova eleição e os candidatos derrotados não poderiam concorrer novamente. Os partidos teriam que apresentar aos eleitores novas escolhas... Eleições são caras. Os partidos não desperdiçariam dinheiro submetendo candidatos duas vezes aos eleitores."

Transcrevi a idéia que, é claro, teria que ser aperfeiçoada.

Supondo-se que, digamos, um milhão de eleitores do Enéias optassem pelo voto 'NDA', todos, literalmente TODOS os candidatos a Deputado Federal de São Paulo estariam impugnados e os partidos teriam que encontrar novos candidatos.

Na nossa máquina de votar fica ainda mais fácil a implementação, bastaria acrescentar o botão 'NDA', ao lado do botão 'Branco'.

Considerando que os que votam no 'Branco' pouco se importam com o resultado das eleições (prerrogativa deles), os votos 'NDA' teriam força política, fosse a votação obrigatória (como é agora), ou facultativa.


Isso me lembrou uma outra idéia, que o Millôr defende há tempos, que seria dar a cada eleitor o direito a dois votos por categoria: um a favor, o outro contra. Os votos contra seriam contabilizados e descontados dos votos a favor recebidos pelos candidatos, fazendo pesar nas eleições não só o índice de aprovação do eleitorado, mas também o índice de rejeição. Se um sistema assim estivesse funcionando no Rio, por exemplo, a garotinha Rosinha jamais teria sido eleita no primeiro turno.

É, eu sei que essas são idéias que jamais irão em frente. Estou apenas pensando em voz alta.

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