22.12.05



Uma história da Matilda

Quando eu digo que tenho os melhores leitores do mundo, o povo acha que é exagero. No outro dia vocês leram aquela beleza de história do Truda -- um filho de mágico entre nós, ignorantes disso!; pois leiam agora esta história da Matilda.

Eu ainda estou secando as lágrimas, chorei de rir, de verdade. E o pior é que nem posso fazer isso, porque volto a tossir -- minha gripe chegou à fase do "só dói quando eu rio"...
Eu tinha pavor de rãs, pererecas e afins, mas pavor mesmo, não ficava jamais no mesmo ambiente que elas, nunca, nunca! Digo tinha, porque, num lindo final de verão quentíssimo me aconteceu o pior de todos os meus pesadelos.

Fui passar o carnaval com onze crianças e adolescentes (meus filhos e todos os meus sobrinhos na época, hoje são mais), sozinha, na fazenda do meu pai.

E chegar numa casa fechada há quase um mês com tantas crianças, depois de viajar de onibus e andar de carro de boi até a sede dá trabalho, dá trabalho abrir e arejar a casa, verificar e limpar os banheiros, fazer comida, dá a comida a esse povo todo, desarrumar malas, ligar as chaves da luz, ligar a bomba da água, televisões, etc..., depois do jantar dá banho nos menores, por todo esse povo para dormir, fechar as dez portas, trocentas janelas, fechar os cortinados das camas, apagar luzes, recolher brinquedos, enfim, nessas tarefas todas esqueci de verificar o meu banheiro das rãs e no verão as rãs ficam no banheiro por causa da água, olhei todos, esqueci o meu.

E depois de todos dormirem, de tudo pronto lá fui eu, tomar banho, um banho delicioso com água pura da fonte, sem cloro nenhum, maravilha para os cabelos, com um chuveiro grandão, quase dava para abrir os braços e ficar toda debaixo da água lindamente gelada, uma catarse de banho.

Antes de tomar banho, eu, a anta cósmica, fui fazer xixi.

E não tinha olhado antes.

E...

A rã agarrou na minha bunda.

Sério.

Toda minha vida passou nas minhas veias naquele momento.

Puro e total pânico.

O pior, o mais profundo mal tinha me atacado.

E de forma humilhante e cruel.

Normalmente eu berraria.

Mas...

Com todas aquelas crianças e todas já dormindo confortavelmente...

E o trabalho que ia dar para acalmar todas depois...

Engoli o medo. Agarrei a rã agarrada na minha bunda, e puxava e ela agarrada e puxava e ela agarrada e puxava e ela agarrada, as duas, eu e a rã apavoradas, numa luta insana.

A rã largou minha pele e eu a joguei janela do quarto afora, xingando ela baixinho, porque no silêncio de uma fazenda à noite tudo se ouve e eu não queria barulho. E fechei a janela e lavei tanto a mão e a bunda que chegou a machucar a pele.

Depois disso, qualquer coisa que alguma rã me faça jamais chegará àquele pavor de novo e, tendo passado pelo pior, olho todas as rãs com uma solene e profunda indiferença.

Sou capaz até de tomar banho com rãs dentro do chuveiro, perdi o medo.
Matilda, você é o máximo, muito obrigada!

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