12.12.05



Aslan, o leão virtual de Nárnia

O filme, os efeitos e a bronca

Li as "Crônicas de Nárnia" há tempos. Eu devia ter uns 13 ou 14 anos e, se bem me lembro, este foi um dos primeiros livros que enfrentei direto em inglês. Mas, tirando isso (de que mal me lembro...!), lembrava de muito pouca coisa, exceto do armário que leva as crianças para o mundo mágico de Nárnia.

Desde aquela época remota, passei a olhar armários grandes e imponentes com um redobrado respeito; confesso que, cada vez que me encontro diante de um deles na Inglaterra, morro de vontade de dar uma disfarçadinha e, assim como quem não quer nada, entrar lá dentro.

Graças ao talento de Richard Taylor e ao desenvolvimento das tecnologias de computação gráfica, consegui, finalmente, realizar este sonho tão antigo. Os cenários, ótimos, ajudaram muito: a porta do armário, chave do segredo, é exatamente como deveria ser -- antiga, imponente, vagamente amedrontadora.

* * *

Para geeks como esta vossa cronista, é impossível assistir a "O leão, a feiticeira e o armário" sem ficar de queixo caído diante dos efeitos especiais. Passada a fase "Exterminador do futuro", em que o quente era mostrar os efeitos, o legal agora é ocultá-los. E em Nárnia eles estão tão bem ocultos que é quase impossível saber onde termina a realidade e onde começa a fantasia.

Isso se pode notar não só nos detalhes óbvios, como o pêlo dos bichos (vejam a imponente cabeleira do leão da foto, todo ele criado em computador), mas também na sensação de peso e massa que transmitem, muito realista. Quando um animal de meia tonelada se desloca, ele o faz como um animal de meia tonelada. E é neste ponto que muito efeito escorrega. Não neste filme, povoado de grifos, unicórnios, faunos, centauros, bichos falantes e todo um universo de criaturas fabulosas. Em todos os sentidos.

* * *

Se aqui, em vez da Cora, estivesse escrevendo o Bonequinho do Globo ? que eu, volta e meia, tenho o orgulho de encarnar ? ele estaria aplaudindo sentado. Só não aplaudiria de pé porque, apesar da qualidade, "Nárnia" não chega aos píncaros inesquecíveis de "Senhor do anéis". E porque, cá entre nós, tanto o Bonequinho quanto a cronista já estão cheios de ver os tipos morenos, meio "estrangeiros", no papel de vilões, e os ingleses tipicamente lourinhos no papel de mocinhos.

(O Globo, Info etc., 12.12.2006)

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