11.1.11

CES 2011: de tudo, muito -- sobretudo gente

(Desculpem o atraso na postagem, mas esta foi uma semana, como direi?... atípica, é isso.)




Quinta-feira, 21h30 de uma noite fria mas muito bonita em Las Vegas, Nevada; no Brasil são 3h30. Ao contrário da Europa, aqui o fuso horário conspira contra os jornalistas que precisam mandar as matérias e colunas em tempo para a redação. Cheguei às 11h30 (horário local) e fui direto para o Las Vegas Convention Center, menos para saber sobre o que escreveria hoje do que para descobrir sobre o que vou escrever pelos próximos meses. O CES (Consumer Electronics Show) é a maior feira de tecnologia do mundo ocidental, onde todos os fabricantes querem vender o seu peixe, seja ele um pendrive ou um telescópio que fotografa o céu e calcula sozinho as coordenadas dos corpos celestes identificados. 


Este ano, segundo se dizia por lá, foi batido o recorde de visitantes: cerca de 140 mil pessoas vieram à cidade só para participar da festa. Eu acredito, porque todas as 140 mil estavam no hall que visitei e queriam ver as mesmas coisas que eu; todas, também, queriam pegar taxi ao mesmo tempo, o que está tornando a "experiência CES" ligeiramente traumática.

Conforme previsto, as grandes estrelas são os tablets e as telas 3D. É fácil apostar as fichas nos tablets: há coisinhas lindas, que dão vontade de pegar no colo e ninar, como o Android com tela de 10" da Motorola, ou o Samsung que, como um smartphone na linha do Milestone ou do N97, esconde um teclado por baixo da tela touchscreen. Mais difícil, a meu ver, é levar o 3D igualmente a sério, a despeito do esforço monumental dos fabricantes. Não consigo imaginar uma família inteira tendo que por óculos 3D toda noite para ver televisão; e os modelos de TV 3D que dispensam óculos só funcionam quando nos sentamos exatamente em frente à tela. De qualquer forma, o 3D não é uma idéia nova -- volta e meia aparece, faz sucesso, depois some por mais uma temporada. Dessa vez, o que há de diferente, de fato, é a quantidade de fabricantes investindo na idéia.

Mais divertido do que enfrentar a explosão demográfica diante dos Grandes Projetos, porém, é fuçar pelos cantinhos menos movimentados para descobrir os pequenos gadgets e acessórios. Por exemplo: há uma quantidade de teclados para tablets, sobretudo para o iPad. Alguns modelos são muito engenhosos, e vêm integrados a capas protetoras. Outros permitem carregar o iPad enquanto são usados. Gosto deles -- eu mesma tenho um tecladinho Bluetooth da Apple, no qual, por sinal, digito essas mal tecladas -- mas, ao mesmo tempo, não consigo deixar de sentir na sua existência um certo contrasenso. Afinal, os tablets significam uma nova experiência sensorial, ou não? Se é para ter uma tela e um teclado, não faria mais sentido ter um notebook de uma vez? Sim e não; escrever de verdade em touchscreen evidentemente não dá certo, ou o CES não teria tal profusão de teclados. Mas a experiência da tela solta, mais leve e jeitosa, é um sucesso consagrado. Enfim, a tecnologia também tem suas contradições...

Ainda na onda dos tablets: é sensacional ver a quantidade e a variedade de suportes que já foram inventados para as engenhocas. Há bases com caixas de som, há simples apoios de alumínio levinhos, há objetos que giram em todas as direções e em todos os angulos, e outros que beiram o ridículo pelo trambolho que são. Há também toda uma nova leva de baterias e carregadores, muitos dos quais permitem o uso simultaneo de diversos aparelhos.

Os headphones também passam por um momento de singular criatividade. Há modelos de todos os tipos e todas as cores, inclusive uns muito engraçadinhos para crianças, com desenhos de flores ou joaninhas; e há um aparelho complicado e enigmático que produz earbuds personalizados, no modelo do ouvido do freguês.

E, por toda a parte, o que é que se vê nos sérios e intermináveis salões do CES? Os personagens de Angry Birds, o joguinho favorito de nove entre dez usuários de smartphones e tablets (o décimo não gosta de joguinhos). Eles estão em cartazes, em capas para smartphones e para iPads, em bichos de pelúcia, chaveiros e o que mais se imagine.

Ainda vou falar sobre as coisas interessantes que vi (e ainda vou ver), mas -- haja espaço! Só para vocês terem idéia, o catálogo oficial de expositores, do tamanho de uma revista grande, tem 377 páginas (em letra miúda). Agora, porém, nesse exato momento, vou ver se consigo enviar direitinho esta coluna: pela primeira vez me aventuro pelo mundo apenas com os meus tablets. 



Torçam por mim!


(O Globo, Economia, 8.1.2011)

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